Estou ficando velho, mas não amoleci, diz Eric Clapton.
Então Eric Clapton, 56, estaria chegando ao fim de sua viagem. Vamos apertar o cinto de segurança e fazer uma retrospectiva ao lado do homem que foi Deus.
Nos anos 60 do blues e do pop psicodélico ao rock pesado.Entre 1965 e 1970, Eric Clapton passou por três supergrupos: The Yardbirds, The Bluesbreakers e, sobretudo, o trio Cream (influência decisiva de Manal).
Anos 70: estréia como solista, passa pelo inferno das drogas e grava “Cocaine”. Os grupos duram pouco com ele. Com Derek & The Dominoes, editou “Layla”, um de seus melhores discos. Em 1979, admitiu que a inspiração do álbum tinha sido a mulher de George Harrison. Passou quase dois anos sem tocar, afundado em drogas, até que, pela mão de Pete Townshend, voltou com um concerto apoteótico.
Anos 80: entre a conquista do pop de massas e seu próprio mito. Seus novos lançamentos, insossos, competem com o peso de sua história.
Anos 90: seu filho Connor morre num acidente trágico, e o show “Unplugged”, para a MTV, transforma-se em seu disco mais vendido: 15 milhões de cópias. Funda o centro Crossroads, que oferece tratamento para alcoolismo e dependência de drogas. “É a coisa mais importante que já fiz na vida”, diz Eric Clapton.
Pergunta – No ano passado, o sr. disse que esta seria sua última turnê. O sr. continua a pensar assim?
Eric Clapton – Sim.
Pergunta – Por quê?
Clapton – Bem, estou ficando velho… esse é um dos motivos. É um fato real. Comecei a me sentir mais à vontade ficando em apenas um lugar. Além disso, formei uma família nova. Tenho uma namorada com a qual estou muito feliz, temos uma filha pequena e quero estar com elas. Viajar não é um prazer.
Pergunta – Como o sr. se sentia pelo fato de as pessoas o chamarem de Deus aos 20 anos?
Clapton – Para ser sincero, confuso, muito confuso. É evidente que isso fez muito bem ao ego, mas tive bom senso suficiente para não levar aquilo muito a sério.
Pergunta – E se chamavam o sr. de Deus, o que restava para Jimi Hendrix?
Clapton – Não cabe a mim responder a essa pergunta.
Pergunta – O que Bob Marley disse da versão de “I Shot the Sherif”?
Clapton – Ele ficou muito grato. Tivemos uma longa conversa ao telefone, na qual eu mal consegui entender o que ele dizia. Seu dialeto era tão pronunciado, e, além disso, usava um monte de palavras da Jamaica que nunca cheguei a compreender. Mas tenho a impressão de que ele gostou.
Pergunta – Sua canção mais ouvida na Argentina ainda é “Cocaine” (1978). Apesar disso, ninguém aqui conhece o autor da música, J.J. Cale. O sr. não se sente culpado por isso?
Clapton – Isso acontece na Inglaterra também. Mas minha idéia sempre foi que, se eu tocava canções de outros artistas, a platéia se interessaria pelo artista original. O problema é que as pessoas não são curiosas.
Pergunta – Então o sr. se sentirá responsável por ter engordado sua própria conta bancária…
Clapton – J.J. Cale está muito feliz com o sucesso de sua canção. Na última vez em que estive com ele, ele me mostrou uma guitarra de coleção. Eu perguntei: “Que guitarra ótima, onde você conseguiu?”. Ele respondeu: “Você comprou essa guitarra para mim. Você vem pagando todas as minhas guitarras desde 1980!”.
Pergunta – Compor é difícil para o sr.?
Clapton – Sim. O fato é que sou muito disperso. Toco apenas dez minutos por dia.
Pergunta – Nos anos 60, o sr. se cansou do pop. Agora, as pessoas do blues criticam seus discos pop. Como o sr. vive essa situação?
Clapton – Eu me sinto muito feliz com meu repertório comercial, mas de quando em quando sinto a necessidade de retornar ao blues. O blues é minha primeira paixão, a forma musical mais profunda que conheci.
Pergunta – Muitos acham que essa concessão abrandou seu estilo. O que o sr. diz?
Clapton – Bem, contribuímos para a intolerância. Muitas pessoas queriam que eu continuasse igual ao que era em 1968. Elas não suportam que seus heróis mudem. Mas não é verdade. Estou velho, mas não amoleci.
Pergunta – Em sua visita anterior à Argentina, o sr. também chamou a atenção por ter conquistado uma garota do país, Ana. O sr. se lembra disso?
Clapton – Oh, sim. Acho que a garota agora mora em Madri.
Pergunta – O sr. está pensando em atacar de novo agora?
Clapton – Não, não, tenho que tomar muito mais cuidado agora. Nada de paqueras desta vez.
Tradução Clara Allain
(*) Transcrito da Folha de S. Paulo
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ERIC CLAPTON – show com o músico norte-americano
Patrocinadores: Mastercard e Telefonica Celular
PORTO ALEGRE
Onde: estádio Olímpico (Estádio do Grêmio)
Quando: 10 de outubro, às 20h30
Informações: 0/xx/51/3299-0900
Quanto: R$ 40 (arquibancadas) e R$ 50 (pista e cadeiras)
Locais de vendas: Lojas de conveniência AM/PM dos Postos Ipiranga de todo o Estado (descontos de R$ 10 para quem abastecer nos postos em valor igual ou superior a R$ 25)
SÃO PAULO (Ingressos esgotados)
Onde: estádio do Pacaembu (pça. Charles Miller, s/nº, Pacembu, tel. 0/xx/11/3191-0011)
Quando: quinta-feira, às 20h30
Quanto: de R$ 50 a R$ 300
RIO DE JANEIRO
Onde: praça da Apoteose
Quando: 13 de outubro, às 20h30
Quanto: R$ 50
Informações: 0/xx/21/2421-3575
Locais de vendas: Bilheterias do ATL Hall (av. Ayrton Senna, 3.000, Barra – de seg. a dom. das 12 às 20 h), bilheterias do Jóquei Clube (rua Jardim Botânico, 1003, Jardim Botânico – de seg. a sáb., das 9h às 17h), FNAC – Barra Shopping, Lojas Music Store dos shoppings Barra Shopping, Nova América, Norte Shopping, Shopping Tijuca e Plaza Niterói, Lojas Levi's dos Shoppings Fashion Mall e Ilha Plaza.