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Supermercados ameaçam boicotar cartão de débito

Guarulhos, 30 de janeiro de 2002

As grandes redes de supermercados iniciaram neste final de semana uma queda-de-braço com as empresas de cartão para tentar reduzir as taxas cobradas pela administradoras nas operações de débito, um dos meios de pagamento que mais vem crescendo nos últimos anos.

O grupo Pão de Açúcar, o maior do País, com 444 lojas e faturamento em 2000 de R$ 9,55 bilhões, está informando a seus clientes, desde a última sexta-feira, que deixará de aceitar todos os cartões de débito a partir do próximo dia 25 de fevereiro, como forma de pressionar as administradoras a baixar os custos.

A iniciativa vai ser seguida pelo grupo francês Carrefour, pela norte-americana Wal-Mart, pelo grupo Sendas e por supermercados menores.

Segundo Paulo Pompilio, diretor de imprensa e de relações públicas do grupo Pão de Açúcar, as taxas cobradas pela Visanet, Redecard e Cheque Eletrônico – empresas responsáveis pela captura e transmissão de transações comerciais das bandeiras Visa, Mastercard, Maestro, RedeShop e de bancos associados – “tornam a operação inviável para os supermercados”. Pompilio não informou quais taxas são cobradas, mas, segundo fontes das lojas de varejo, quase dobraram no ano passado. “A partir do dia 25 de fevereiro, deixaremos de aceitar os cartões de débito por tempo indeterminado”, disse Pompilio.

Conforme dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o cartão de débito já representa cerca de 8,2% das operações de venda nas lojas. O meio de pagamento, que surgiu no Brasil há pouco mais de quatro anos, ainda perde para o pagamento em dinheiro, com 32,2%; cartão de crédito, 16,8%; cheque à vista, 10,7%; e cheque pré-datado, 9,8%. Mas o cartão de débito ganha cada vez mais espaço na preferência dos consumidores, devido à facilidade na operação e a segurança, já que evita que as pessoas levem uma quantia grande de dinheiro no bolso.

O Carrefour – vice-líder do varejo brasileiro, com vendas de R$ 9,52 bilhões País em 2000 – informou, no final de tarde de ontem, que, a partir de hoje, vai espalhar cartazes nas suas mais de 200 lojas, informando o cliente que também não aceitará mais o débito automático como meio de pagamento a partir do dia 25 de fevereiro.

A informação é do diretor-financeiro do grupo, Jean Michel Garrigue. Apesar da decisão, a varejista francesa, que desembarcou no País em 1975, vai acompanhar as negociações entre as administradoras de cartões e Abras. Dependendo do acordo, poderá voltar atrás na sua decisão. Se optar por cancelar esse tipo de operação com terceiros, a rede continuará aceitando o débito automático no seu cartão de crédito Carrefour. Lançado em 1989, o cartão Carrefour tem mais de três milhões de usuários e realiza o débito automático por meio de uma senha, a ser digitada pelo consumidor na hora da compra.

O setor supermercadista – que movimenta vendas anuais superiores a R$ 70 bilhões – espera o desfecho do embate no começo de fevereiro, quando deve acontecer mais uma reunião entre o varejo e as administradoras de cartões. Segundo fontes do setor, as negociações se arrastam desde o final do ano passado e não se sabe, ao certo, qual o aumento que as empresas de cartões estão impondo às redes varejistas. Fonte de uma grande rede de supermercado diz que o aumento é de 50%. Mas, no mercado, circula a informação de que a taxa de administração seria dobrada.

A Wal-Mart e o grupo Sendas, o maior do Rio de Janeiro, com 80 lojas, deixarão de aceitar os cartões de débito já no próximo dia 22. Segundo informou a assessoria de imprensa da Wal-Mart, o aumento nas taxas pagas para as administradoras tornaria o gasto com a operação extremamente elevado.

Em um comunicado divulgado ontem, a Wal-Mart explica que “a aceitação das novas taxas acarretaria maiores custos o que, no final, seriam repassados para os clientes, contrariando a filosofia da empresa”. Segundo comunicou a rede norte-americana, tem se observado a crescente elevação de taxas por parte das administradoras.

O grupo carioca Sendas informou, por meio de sua assessoria, que a medida tem o objetivo de proteger o consumidor de reajustes de preços, que teriam que ser feitos para proteger suas margens de lucratividade. Em relação aos cartões de crédito, ainda não existe nenhuma medida definida.

A Visanet, que filia estabelecimentos comerciais para receber cartões com a bandeira Visa, informou, através de sua assessoria de imprensa, que foi pega de surpresa com a notícia da não aceitação do débito pelos supermercados. Segundo a assessoria de imprensa, a empresa não foi procurada, em nenhum momento, pelos supermercados, para reclamar sobre os custos na operação com cartão de débito.

De acordo com a Visanet, as taxas cobradas para o pagamento com débito variam entre 1% e 5% sobre o valor de cada transação, dependendo do volume de operações da rede de varejo. Como os supermercados têm grande automatização, normalmente pagam as menores taxas, em média, 1,5%.

Se o boicote planejado pelas grandes redes acontecer, o VisaElectron, o cartão de débito da bandeira Visa, será o mais prejudicado. O cartão tem 48% do mercado, conforme dados de outubro de 2001, e faturou, no ano passado, R$ 6,1 bilhões. O volume de transações saltou de 2,376 milhões, em 1998 – ano seguinte ao início das operações – para 151 milhões no ano passado, nada menos que 6.255% no período. Para este ano, a previsão é chegar a 226 milhões. A Redecard e Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços ( Abecs ) foram procuradas, mas preferiram não comentar o assunto.