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Cortes na taxa de juros podem começar em junho

Guarulhos, 31 de maio de 2002

O mês de junho poderá marcar o início dos cortes na taxa de juros básica da economia brasileira (Selic), hoje em 18,50% ao ano. Foi o que sinalizou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pelo Banco Central na última quarta-feira. De acordo com o documento, embora a trajetória projetada para a inflação recomende um alívio na política monetária, a alternativa do conservadorismo foi privilegiada para tentar o manter o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro do teto de 5,5% da meta deste ano.

Na avaliação da diretoria do BC, uma redução no juro ainda surtiria efeito neste ano. Como o BC já projeta uma taxa de inflação “acima de 5%” e o mercado, na média, já projeta 5,46%, o temor de descumprir, pelo segundo ano consecutivo, o objetivo estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) bateu mais forte.

“A maioria dos membros considerou que o balanço dos riscos para 2002 – a piora no risco-Brasil, a recente depreciação cambial e a proximidade das projeções de inflação ao teto da banda – recomenda confirmação da trajetória de queda da inflação para a flexibilização da política monetária, que ainda tem impacto sobre o resultado do ano”, diz a ata. Partindo-se do pressuposto que a política monetária leva no mínimo seis meses para impactar a inflação, o Banco Central poderia, a partir da reunião do final de junho, começar a reduzir a Selic. Isso porque cortes no juro afetariam a inflação de 2003, que está projetada “abaixo da meta de 3,25%”. A votação da reunião, que teve cinco votos pela manutenção do juro em 18,50% ao ano e três pela redução, reforça a expectativa.

Desvalorização – Segundo a ata do Copom, o aumento na expectativa da inflação de 2002, que na reunião anterior estava projetada entre 4,5% e 5%, deveu-se basicamente à depreciação cambial no período. Entre abril e maio, a cotação do real saiu da casa dos R$ 2,30 para R$ 2,50. Mas, segundo o próprio BC, esse impacto sobre a inflação pode não ocorrer na magnitude esperada, por conta de dois fatores: o nível de atividade e a duração da depreciação da divisa estrangeira.

“Em primeiro lugar, o arrefecimento da recuperação do nível de atividade econômica deve dificultar o repasse da variação cambial para os preços. Em segundo lugar, num regime de câmbio flutuante, o impacto de uma variação cambial sobre os preços deve ser reduzido quando os agentes percebem essa variação como temporária”, diz o texto, lembrando que no primeiro trimestre a valorização do real não surtiu efeito favorável.

Os cálculos da autoridade monetária também apontaram para um aumento maior no conjunto de preços administrados e monitorados. Em abril, a expectativa era de alta de 7,2% para este ano, mas na última reunião a estimativa subiu para 7,6%. Essa elevação foi determinada, basicamente, pela expectativa de reajuste mais forte para as tarifas de energia elétrica, que passou de 15% para 18% entre abril e maio. Para 2003, entretanto, o BC espera alta de 12,7% para a energia, ante 13,6% na reunião anterior, o que levou a uma redução de 4,5% para 4,3% na expectativa para o conjunto de preços administrados no ano que vem.