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Corte de gastos

Guarulhos, 27 de agosto de 2002

O sinal amarelo acende quando a receita começa a se retrair. É hora de redobrar esforços para buscar novos clientes e aumentar as vendas. Se, mesmo assim, os resultados ficam além do planejado, o jeito é tomar medidas drásticas. O enxugamento de custos é sempre uma etapa dolorosa na história das empresas, mas é fundamental quando se trata de sua sobrevivência. Como advertem os especialistas, quando o lucro cede lugar ao prejuízo, de pouco adiantam as soluções que não eliminem o vermelho. Medidas como pedir empréstimos ou vender bens apenas ajudam a ganhar tempo, sem resolver o problema.

O segredo, portanto, está em saber o que e quando cortar. Mas isso não se descobre de uma hora para outra, mesmo porque existe o risco de se perder, nesse processo, algo que pode ser decisivo para a retomada do ritmo quando a crise passar. Portanto, a melhor ferramenta para se ter à mão, num momento mais difícil, é um rígido controle da empresa, com todos os detalhes sobre custos e receitas.

Metas e Desvios – Esse controle pressupõe que se estipule, um nível ideal de faturamento e também de gastos com pessoal, material e tributos. Só a partir daí é possível identificar os desvios entre as metas e o desempenho real do negócio. Irani Cavagnoli, consultor de pequenas empresas e ex-diretor-superintendente do Sebrae de São Paulo, considera um equívoco, por exemplo, priorizar a demissão de funcionários. “Afinal, os empreendimentos são tocados por pessoas que têm responsabilidade quanto à imagem da empresa no mercado”, argumenta. Cortá-las é comprometer, em parte, essa imagem. Para evitar isso, Cavagnoli sugere que se registre tudo o que gera custo para o negócio sem agregar benefícios equivalentes. E é sobre eles que o empresário deve concentrar sua atenção.

Segundo Bortoli Neto, da FEA-USP pequeno negócio não costuma apresentar fronteiras nítidas entre o patrimônio da empresa e o do empresário. Portanto, em situações de crise, é válido o empreendedor sacrificar bens pessoais para injetar dinheiro na atividade.”Isso é sempre preferível a endividar-se com bancos ou financeiras”, aconselha.

Longe de dívidas – O correto,recomenda o professor, é fazer um rigoroso acompanhamento dos compromissos assumidos, sejam eles encargos sociais, tributos ou pagamento aos fornecedores. “Este é um passo importante. Inclusive para conferir se o negócio é realmente viável”. Por fim, sugere: “Evite o acúmulo de dívidas. Renegocie o mais rápido possível os débitos com fornecedores e parcele o pagamento de tributos ou encargos com o governo”. Cuidados como esses não evitam as surpresas provocadas por fatores externos à empresa, mas ajudam – e muito – no momento em que é preciso fazer correções de rumo.

O consultor Irani Cavagnoli concorda com a tese. Desde que o quadro de funcionários esteja bem ajustado às necessidades do empreendimento, ele acredita que até mesmo reduções de salário devem ser encaradas como alternativa à saída aparentemente mais fácil das demissões. “Ajustar custos sem dispensar funcionários pode ser uma solução mais eficaz”, afirma. Mas, de qualquer modo, é muito importante ter sempre uma visão nítida de quais são as pessoas essenciais à sobrevivência do negócio – ou seja, aquelas que devem ser preservadas até o último momento.

Qualquer que seja a decisão do empresário, no entanto, vale a pena estar atento para um aspecto de nossa economia, faz questão de frisar Bortoli Neto, da FEA. “Ela caminha por ciclos. Um pouco mais adiante pode estar o esperado reaquecimento das vendas.” Nessa hora, quem não estiver preparado para atender às necessidades do mercado pode morrer na praia.

Leila Gouvêa