Prazo de entrega, preço e qualidade deixaram de ser os únicos fatores importantes para se avaliar uma companhia. Os critérios estão mudando. A responsabilidade social começa a ser um dos itens principais para a imagem que os consumidores locais e o mercado externo têm da empresa.
Organizações como o Instituto Ethos, de São Paulo, reúne centenas de companhias preocupadas com a preservação do meio-ambiente, questões trabalhistas, bem-estar dos funcionários e relações com a comunidade. Só as empresas associadas ao Ethos, juntas, empregam mais de um milhão de pessoas e têm um faturamento somado de aproximadamente R$ 250 bilhões, cerca de 25% do PIB brasileiro. “Isso não é uma visão ideológica, é uma questão de gerenciamento de risco. As empresas que não se adaptarem estarão fora do mercado”, afirma Valdemar de Oliveira Neto, superintendente do Instituto Ethos.
Com essa preocupação, várias companhias passaram a fazer mais exigências a toda a sua cadeia produtiva. A montadora de automóveis Fiat, por exemplo, deu um prazo para que todos os seus fornecedores conquistem a certificação de qualidade ambiental ISO 14000. “As companhias precisam se preocupar em garantir fornecedores sérios e privilegiar aqueles que não trarão problemas”, diz João Sucupira, coordenador de Transparência e Responsabilidade Social do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas).
Balanço social – Para dar transparência às ações sociais, desde 1997, o Ibase mantém à disposição das companhias um modelo de relatório de Balanço Social detalhado. O documento foi idealizado pelo sociólogo Hebert de Souza, o Betinho, e divulga o que os empresários estão fazendo pelo desenvolvimento social no país. “No primeiro ano, quatro empresas aderiram ao nosso modelo, em 2001, foram cerca de 60 instituições”, diz Sucupira. Entre as que fizeram o relatório estão o Grupo Pão de Açúcar, a Petrobrás, o Banco Itaú e a Azaléia. Segundo Sucupira, a divulgação dos programas sociais através de documentos traz inúmeros benefícios às empresas. “Os empregados vestem a camisa da companhia, passam a ter orgulho do local onde trabalham e a produtividade aumenta”. Também fica mais fácil para a empresa conservar e atrair profissionais mais qualificados.
Mercado internacional – Empresas com comprometimento social também levam vantagem nas relações internacionais. A União Européia deve divulgar em abril o GreenPaper, um documento que define a política de promoção do comprometimento social para a Europa. A Inglaterra instituiu o departamento governamental de responsabilidade social corporativa, o Corporate Social Responsability, que tem um ministro para cuidar da questão nas empresas . Embora o Brasil tenha feito grandes esforços nos últimos anos, a imagem das companhias nacionais não é positiva. “Há dois fatores que nos prejudicam: a questão da destruição ambiental e a situação das crianças”, afirma Oliveira, do Instituto Ethos. Para Oliveira, a solução do problema está em um trabalho agressivo de divulgação e associação da “marca brasileira” a uma idéia de responsabilidade social.
Movimento – Segundo Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo, o movimento de conscientização social aumenta na mesma proporção das exigências da sociedade. “O consumidor dá preferência declarada às empresas que despertam sua simpatia por uma postura de sensibilidade social”, diz. Ele considera esse trabalho um marketing importante em que a empresa tem lucro duplo. “Ganha-se por atenuar o desnível social e por beneficiar a imagem da companhia.”
Crescimento – Um estudo recente feito pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostra que as empresas socialmente responsáveis apresentam uma taxa de crescimento quatro vezes maior que as companhias focadas apenas nos acionistas. No Brasil, ainda não se têm estatísticas, mas há um movimento em favor das empresas que querem investir em responsabilidade social. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), por exemplo, cobra juros menores dos empréstimos concedidos às companhias socialmente responsáveis. O dinheiro obtido pode ser gasto em programas de investimento em capital humano, educação, saneamento básico, medicina preventiva e curativa, nutrição e outras formas de elevação de renda dos trabalhadores.
(Estela Cangerana)