A dupla jornada de trabalho dos executivos
Assustados com a possibilidade de perder o emprego, os executivos estão procurando garantir seu futuro. Segundo pesquisa feita pelo Grupo Catho, 23% dos executivos brasileiros com mais de 40 anos abriram um negócio próprio paralelo ao emprego.
A pesquisa “A contratação, a demissão e a carreira dos executivos brasileiros” foi realizada com 9.174 executivos de todo o País. Para o presidente do grupo, Thomas Case, os resultados mostram que esses profissionais estão cada vez mais preocupados com o futuro. “O mercado de trabalho é muito difícil para quem tem mais de 45 anos e os executivos buscam saídas para uma eventual demissão. Assim, muitos se tornam professores ou abrem um negócio próprio”.
Segundo a pesquisa, 21,97% dos executivos brasileiros têm um negócio paralelo e 9,96% deles são professores. O estudo mostra ainda que a porcentagem dos que exercem outra atividade é tanto maior quanto mais alto o cargo. A remuneração do trabalho adicional corresponde em média a 56% do que ele recebe no emprego.
Atividade paralela, um dilema profissional
Ter uma atividade paralela ao emprego pode ser um dilema para os executivos, que dedicam 26 horas semanais ao trabalho “extra'. “Há um conflito de interesses”, diz o professor Cláudio Dedecca, do Instituto de Economia da Unicamp. “Quando alguém monta um negócio é porque dificilmente considera o emprego atual como interesse futuro. Mas isso pode prejudicar seu trabalho como executivo”.
Case diz acreditar que a atividade paralela pode prejudicar o desempenho profissional. “As pessoas nessa situação sofrem um dilema: por um lado, o segundo trabalho é necessário para garantir o futuro; por outro, a atividade executiva é prejudicada, pois o executivo pode não conseguir se dedicar aos dois empregos ao mesmo tempo”.
Assim, o executivo que se desdobra em mais de um emprego pode ser preterido pelas empresas. “Essa situação é um mau negócio para as empresas, pois o profissional acaba não se dedicando totalmente ao trabalho. No recrutamento, as empresas pesquisam a vida dos candidatos e, se constatam uma atividade paralela, não contratam”.
Dedecca lembra que, dependendo da atividade extra, ela pode até complementar a função do executivo na empresa. É o caso de dar aulas em uma universidade.
“O profissional acaba atualizando sua qualificação, e isso é benéfico para a empresa em que ele trabalha”.
O professor aponta ainda que essa procura por uma atividade paralela tem muito a ver com o desemprego. Desde o fim dos 90, diz ele, os executivos perceberam que não estão imunes ao desemprego e, no caso deles, que têm altos salários, a recolocação pode ser mais difícil.
AIANA FREITAS