Notícias

Agroindústria brasileira ganha mercado com custo menor

Guarulhos, 28 de junho de 2002

Os menores custos de produção colocam as principais agroindústrias do Brasil, a Sadia, a Perdigão e a Seara, entre as mais competitivas no exterior, em comparação com as gigantes norte-americanas ConAgra, Tyson Foods e Smithfield. Contudo, as multinacionais, com maior ganho de escala, têm as menores despesas operacionais e financeiras, de acordo com estudo do Centro de Pesquisas em Finanças (Cepefin), da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

Vice-líderes mundiais nas exportações de aves, as companhias brasileiras beneficiaram-se no ano passado da valorização do dólar sobre o real, o que refletiu diretamente nos resultados dos grupos (veja ao lado). Em 2001, os embarques brasileiros atingiram 1,249 milhão de toneladas, alta de 38% sobre o ano anterior. Os Estados Unidos, maiores exportadores mundiais de aves, cresceram 2,7% em 2001, para 2,586 milhões de toneladas.

Custos menores

“Os preços da terra e os gastos menores com insumos dão maior competitividade às empresas brasileiras sobre as multinacionais. Esse fator atrai empresas estrangeiras ao Brasil, como é o caso da francesa Doux”, diz Luciano Marques Caldeira, pesquisador do Cepefin. “Mas ainda é preciso reduzir as despesas operacionais e financeiras”, afirma.

Segundo Caldeira, as multinacionais têm a seu favor o maior ganho de escala, com os processos de fusões e aquisições nos últimos anos. O caso mais recente foi o da Tyson, com a aquisição da também norte-americana IBP.

Logística deficitária

“Boa parte da produção norte-americana é consumida no mercado interno, o que reduz em parte as despesas marítimas das multinacionais. O custo de distribuição dos Estados Unidos também é menor”, diz Wang Wei Chang, vice-presidente financeiro da Perdigão. Segundo ele, as companhias brasileiras têm gastos pesados com frete. “O custo de distribuição das empresas é maior por conta da logística (boa parte por rodovias).”

A oferta abundante de grãos e o sistema de integração adotado pelas empresas brasileiras contam a favor da redução de custos, diz Paula Santana Batista, analista da FNP Consultoria & Comércio. “A ida de muitas empresas para o Centro-Oeste também ajudou a reduzir as despesas.” Segundo ela, as empresas brasileiras ainda têm um gargalo que é a falta de competitividade em escala, ao contrário das estrangeiras. “Esse fator favorece a redução das despesas financeiras, comerciais e operacionais”, diz. A criação da BRF Trading, pela Sadia e Perdigão, para a exportação, é um dos exemplos bem-sucedidos de como se pode reduzir os custos.

A Tyson informa que seus altos custos de produção podem ser atribuídos ao aumento das despesas com mão-de-obra e as regras mais rigorosas impostas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e aos órgãos reguladores de meio ambiente e saúde de cada estado. A Smithfield preferiu não comentar a análise por desconhecer os custos brasileiros, informou a assessoria da empresa.

Juros altos

As altas taxas de juros no Brasil para tomada de empréstimos, em torno de 28% (para seis meses), comprometem as despesas financeiras das agroindústrias brasileiras, diz Rodrigo Pasin, um dos responsáveis pelo relatório da Cepefin e consultor da Guarita & Associados. Nos Estados Unidos, a taxa de juros anual gira em torno de 5%. “A variação do câmbio também compromete as dívidas em dólar das empresas”, diz.

A alta carga tributária brasileira também contribui para a redução dos ganhos das indústrias. A média do Ebitda (lucro operacional antes do resultado financeiro, depreciação, amortização e impostos) das indústrias brasileiras em 2001 ficou em 16,7% sobre a receita líquida, caindo para 6,2% no lucro líquido. O Ebitda médio das multinacionais ficou em 6% e o lucro líquido, em 2%.

Para Caldeira, as fusões são uma tendência no País, o que dará maior escala às agroindústrias.