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Ano será melhor para as negociações salariais

Guarulhos, 19 de março de 2002

Enquanto o primeiro semestre de 2001 foi favorável aos trabalhadores nas negociações salariais, apenas 46% das categorias conseguiram reajuste igual ou superior à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) na segunda metade do ano, segundo divulgou ontem o Departemento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).

Os trabalhadores do setor de serviços foram o que mais sofreram nas negociações salariais. No segundo semestre, 78,38% das categorias desse setor tiveram reajuste menor do que o INPC. No primeiro semestre, 72% das categorias totais conquistaram no mínimo a reposição integral do INPC, calculado pelo IBGE. Os trabalhadores foram beneficiados com o crescimento da economia que vinha desde o ano 2000. Já no segundo semestre, atrapalharam o racionamento de energia, a crise argentina e a desvalorização cambial.

A pesquisa analisou o reajuste conquistado por 529 categorias profissionais. O coordenador de atendimento técnico do Dieese, Wilson Amorim, falou que há expectativa de inflação menor em 2002 e de um crescimento da economia entre 2,5% e 3%. “Temos uma safra de boas notícias para 2002. Ao contrário do ano passado, 2002 começa ruim, mas vai melhorar no segundo semestre. Este ano, o governo também vai dar maior visibilidade para a economia por causa das eleições. O governo vai rolar no chão para melhorar a economia. Não será um Carnaval com trio elétrico, mas uma alegria um pouco mais contida”, disse.

Serviços – No setor de serviços, o índice de categorias que não conseguiram repor a inflação foi de 34,23%. Na média do ano, 43,01% dos trabalhadores do setor tiveram reajustes abaixo da inflação. No comércio, a situação não foi muito diferente. No segundo semestre, 76,47% tiveram reajuste menor do que o INPC, contra 7,14% no primeiro semestre de 2001. Na média do ano, 33,33% não conseguiram repor a inflação. As perdas dos trabalhadores da indústria foram menores: 44,12% das categorias com data-base no segundo semestre não conseguiram repor a inflação, contra 27,16% nos primeiros seis meses do ano. Na média anual, 33,71% tiveram perdas porque o reajuste foi inferior ao INPC. Wilson Amorim informou que os trabalhadores do comércio e do setor de serviços têm mais dificuldade em negociar a reposição da inflação. Quando a situação dos trabalhadores de indústria vai mal, esses setores apresentam desempenho ainda pior.

Racionamento – O racionamento de energia, que começou em maio do ano passado, atrapalhou as negociações salariais de 2001, segundo a pesquisa do Dieese. Isso fica claro quando se comparam os reajustes acima do INPC do IBGE conseguidos pelas categorias. Na indústria, a responsável por 264 (52%) das 529 categorias pesquisadas, 73% dos sindicatos conseguiram, no mínimo igualar o INPC nas negociações do primeiro semestre. No segundo semestre, quando o racionamento estava em vigor, a proporção dos que conseguiram repor pelo menos o INPC caiu para 56%. No comércio, segundo o Dieese, das 28 categorias que negociaram no primeiro semestre, 93% tiveram reajustes iguais ou superiores ao INPC. No segundo semestre, das 17 categorias que negociaram, 24% obtiveram a reposição do INPC. A flexibilização das leis trabalhistas pode prejudicar as negociações salariais daqui para frente, na opinião de Amorim. Segundo ele, as negociações se tornarão mais complexas porque não se limitarão aos reajustes salariais. Amorim afirmou que desde 1995 existe a flexibilização e lembrou que já surgiram novos tipos de greve, como as feitas para garantir a manutenção do emprego. Para ele, os resultados dependerão muito do desempenho da economia e da situação de cada setor.