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As empresas antigas estão quebrando

Um estudo feito pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo, descobriu que um fenômeno diferente vem ocorrendo no universo das empresas que vão à falência. Um número cada vez maior de empresas tradicionais, com muitos anos de vida, têm fechado as portas. Cerca de 10% das empresas com falência decretada em abril tinham mais de 30 anos. “Não há sinal de alarme no número de falências decretadas. O problema que está nos preocupando é a falência de empresas antigas, que já passaram por sua infância e adolescência”, diz o diretor do Instituto, Marcel Solimeo. Em abril deste ano, 90 empresas da Capital paulista tiveram a falência decretada. No mesmo mês do ano passado foram 85. Nos anos de 1996 e 1997, quando toda a economia brasileira mergulhou em depressão, arrastada por seguidas crises financeiras internacionais, a média mensal ficou em 139 e 148 falências decretadas em abril.

Crise de consumo – A situação, portanto, não é alarmante. O intrigante é a constatação de que empresas que sobreviveram a taxas de inflação de até 80% ao mês, como havia no final do governo José Sarney, na década de 80, a inúmeras reformas monetárias e à recessão, estejam hoje se mostrando incapazes de continuar operando. O advogado falencista José Fernando Mandel tem uma explicação para o fato. “O desemprego e a queda de renda da classe média têm provocado uma retração do mercado e prejudicado as empresas”, diz. Segundo ele, o aumento dos custos também tem ceifado a vida das pequenas empresas. “Como seus consumidores estão empobrecidos, e a competição é muito grande, as empresas não conseguem repassar esses aumentos para os preços e ficam com o prejuízo”. Só em abril, na cidade de São Paulo, seis padarias baixaram as portas. A Panificadora Itaberaba, na zona Oeste da cidade, faliu depois de 38 anos de trabalho. O último proprietário, Amadeu Augusto Deguncho, comandou a padaria por quase uma década. Ele conta que seus problemas começaram cerca de cinco anos atrás. Uma guerra de preços forte, travada especialmente com as redes supermercadistas, atrapalhou a performance da empresa. Diz também que sofreu com a alta nos custos de seus produtos. “Nos últimos meses, apenas na farinha registramos três altas de preços, que não pudemos repassar para não perder a clientela” Deguncho tentou obter recursos de linhas de empréstimos de instituições oficiais mas não teve sucesso. Então pagou seus credores e desistiu de sua padaria. “Mas isso é temporário. Logo abrirei outra panificadora. É isso o que eu sei fazer”, diz.

Modernização – Segundo o sindicato da indústria de panificação de São Paulo, há 52 mil padarias funcionando no País. No início do Plano Real, em 1994, elas eram 60 mil. O setor, portanto, encolheu. E é normal que todos os dias haja o registro de novos empreendimentos e a quebra de outros, mais antigos. Isso porque o setor de panificação se modernizou muito, nos últimos anos, e passou a sofrer a concorrência dos supermercados, que compram matéria-prima em grande quantidade, com desconto, e podem vender seus produtos a preços mais atraentes do que os dos pequenos estabelecimentos. A necessidade de investimento na modernização é um dos motivos de quebra das empresas, atualmente. “As empresas têm capital insuficiente e crescem usando recursos de terceiros. Mas diante das taxas de juros vigentes não há rentabilidade que seja compensadora”, diz Marcel Solimeo. Há outras razões para a falência das empresas. Os impostos, elevados e sobrepostos, são uma causa conhecida. Outra é a estrutura deficiente das empresas. “Muitas já começam a operar em dificuldades, descapitalizadas”, explica Solimeo. O economista da Associação Comercial acredita que para ter vida longa uma empresa precisa ter uma base de capital para aguentar o período inicial. “As fontes de financiamento praticamente inexistem, por isso as empresas precisam contar com recursos próprios “, diz.

Reforma – Na tentativa de reduzir os prejuízos à economia provocados por tantas quebras de empresas, uma comissão montada na seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil estuda propostas de reforma da Lei de Falências e Concordatas. O advogado falencista José Fernando Mandel, que preside a comissão, diz que algumas das propostas de mudança são sugestões do Banco Mundial. Há um interesse do sistema financeiro internacional nessas alterações, que ficariam mais em consonância com a legislação de outros países, protegendo as multinacionais instaladas no Brasil. Mas as novidades seriam benéficas também para as empresas brasileiras. “A burocracia estatal procura se cercar de garantias cada vez maiores para o recebimento dos créditos fiscais das empresas em processo de falência”, diz Mandel. “Mas o feitiço vira contra o feiticeiro, já que fica difícil a empresa se recuperar”. É um problema, já que ao Estado e à sociedade interessa a sobrevivência da empresa, cujo trabalho repercute em toda a sociedade, gerando mais emprego, mais produção e mais tributos.

Teresinha Matos

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