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Atuação de empresa brasileira no exterior ainda é pequena

Guarulhos, 16 de abril de 2002

Poucas empresas exportadoras brasileiras têm base no exterior e a maior parte não tem projeto de internacionalizar suas operações. O diagnóstico consta de estudo elaborado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Apesar do retrato atual, quase um terço das firmas nacionais quer ir para o exterior. De olho na demanda, o BNDES deverá anunciar nas próximas semanas nova linha de financiamento para a internacionalização das empresas brasileiras.

O quadro apresentado pelo consultor da Funcex, Roberto Iglesias, mostra que apenas 17% das empresas nacionais pesquisadas têm operações em outros países. Quase 85% das unidades no exterior servem para atividades de comercialização e distribuição de mercadorias. Somente 12% têm fábricas fora.

O levantamento também mostra, contudo, que 29% das empresas nacionais entrevistadas têm planos de investir no exterior, principalmente em escritórios (42,6%), distribuição (23,3%) e fábricas (7,8%).

Iglesias explica que a falta de informações sobre mercados externos e sobre a regulação dos mercados internacionais foi o problema mais citado para o planejamento de investimentos no exterior. A outra dificuldade apontada foi a inexistência de financiamento. Além disso, para 40% das empresas nacionais a falta de necessidade explica a ausência de investimentos no exterior.

“A percepção que surge das respostas é de que a falta de investimento no exterior está relacionada com estratégias das firmas e não com restrições externas às empresas”, afirma.

BNDES

Iglesias defende que, em determinados setores, a aposta no exterior é inevitável. Por isso, além de maior divulgação de informações, o consultor sugere a montagem de financiamentos, prioritariamente em segmentos nos quais a presença internacional faça diferença. Nesta segunda-feira, o presidente do BNDES, Eleazar de Carvalho Filho, disse que a nova linha para internacionalização de empresas ultrapassou a fase de análise do comitê interno e que a diretoria do banco deverá aprovar brevemente o projeto.

A idéia é de que estes investimentos ajudem a aumentar as exportações das empresas brasileiras ou o conteúdo agregado a seus produtos. Serviriam, por exemplo, para operações de logística e até de industrialização no exterior. Em abril, o BNDES discutirá com o banco de fomento da China acordo pelo qual o banco brasileiro financiaria investimentos estrangeiros que geram empregos no País, através de associações, enquanto o chinês faria o mesmo com empresas brasileiras. O projeto poderia ser realizado com outros países também.

Carvalho Filho e Iglesias participaram nesta segunda-feira de seminário no BNDES para apresentar estudos sobre exportações encomendados pelo banco à Funcex e à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Durante sua apresentação, o consultor da Funcex Pedro da Motta Veiga defendeu que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) deveria voltar a se ligar diretamente à Presidência da República, deixando o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, ao qual está hoje subordinada.

Motta Veiga criticou a sobreposição de atribuições e funções entre diferentes ministérios no tocante às exportações e atacou a falta de coordenação em vários níveis do Executivo no tratamento do assunto.

Argumentou, ainda, que para a criação de um Eximbank brasileiro seria necessário separar o BNDES-Exim e juntar o braço de exportações do banco à área internacional do Banco do Brasil. “É irracional ter coisas separadas, que se falam pouco”, argumentou o consultor da Funcex.

Nilson Brandão Junior