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Bancos deixam de alugar cofres

Guarulhos, 22 de junho de 2004

Guardar objetos de valor em cofres de banco já foi um símbolo de status bastante procurado há 15 ou 20 anos. Além de poder contar com esquemas de segurança acessíveis só a milionários, os clientes eram atraídos pelo glamour de ultrapassar portas e mais portas de aço e examinar em salas exclusivas o conteúdo das famosas gavetas secretas. Hoje, porém, cenas como essa são cada vez mais raras. Poucos bancos ainda oferecem o serviço e quem o faz restringe cada vez mais o acesso de novos clientes.

BankBoston, Bradesco, Safra e Unibanco, por exemplo, não alugam mais caixas-fortes. No Itaú, os cofres sobreviveram em pouquíssimas agências. As instituições financeiras explicam o desaparecimento dizendo que o custo de manutenção não compensa o retorno. Não se trata apenas do custo financeiro — as despesas que vão da manutenção física à contratação de seguranças. Elas temem os danos à imagem que podem ocorrer se os cofres forem roubados ou se os clientes os usarem para guardar itens ilegais, como drogas e armas clandestinas. A cautela é tanta que os bancos nem falam sobre o assunto. De dez bancos procurados por EXAME, o único a dar entrevista foi a Nossa Caixa, de São Paulo.

A instituição estadual paulista instalou seu cofre no centro de São Paulo na década de 50, antes de construir o prédio que hoje abriga a sede da instituição. Apenas a porta da caixa-forte pesa 18 toneladas. Como seria de esperar, bem poucos conseguem chegar até ela. Não só pelo sistema de segurança, que inclui alarmes, câmeras de vídeo e agendamento com hora marcada para conhecer o local. Nem pelo preço do aluguel, que começa em 50 reais e pode chegar a 500 reais por mês, dependendo do espaço utilizado. A maior razão é que o próprio banco restringe o acesso ao serviço. “Só divulgamos esse produto para os clientes que têm um relacionamento antigo conosco, ou para quem eles indicam”, diz Luiz Francisco Barros Neto, diretor de Rede e Distribuição. “É uma questão de segurança.”

O uso dos cofres não é regulado por leis específicas nem normas do Banco Central. Os bancos que ainda oferecem o serviço costumam incluir uma cláusula nos contratos de aluguel que diz que o conteúdo das gavetas é secreto. Ou seja, o cliente não precisa informar o que tranca lá. Essa regra protege a privacidade do cliente, mas também isenta os bancos de indenizá-lo em caso de assalto. Não há nem seguro para os itens guardados ali. “Se o cliente não declara o que tem, não podemos indenizar nem fazer seguro”, diz Neto. “Por isso, quando ele resolve guardar objetos conosco, o que ele está comprando é nossa credibilidade.”

Tudo isso contribui para afastar os clientes. Hoje, mais da metade dos 2 300 cofres do banco está ociosa. Segundo Barros Neto, a falta de uso é melhor do que o risco. Nem sempre foi assim. “Antes, os correntistas reservavam os cofres que ainda estavam ocupados para poder usá-los depois”, diz o executivo. “Hoje, com os novos sistemas particulares de segurança, muitos clientes estão preferindo deixar suas coisas em casa.”

Por Giuliana Napolitano