BC quis evitar perdas para o pequeno investidor
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, explicou hoje, no plenário da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, que a desvalorização dos títulos públicos e privados de longo prazo ocorrida entre abril e o início de maio é que levou à decisão do BC de antecipar de setembro para dia 31 de maio a uniformização das metodologias usadas pelos fundos de investimento para realizar a marcação a mercado de seus ativos. “A tendência de desvalorização dos títulos de prazos mais longos é que acendeu a luz amarela”, disse Fraga.
A preocupação, de acordo com o presidente do BC, era evitar perdas para os pequenos investidores que poderiam permanecer nos fundos de investimento e que ainda não estavam enquadrados a uma metodologia de marcação a mercado pela curva dos preços dos ativos, enquanto que os grandes investidores ganhariam ao sacar com a cota a um valor acima do praticado em mercado. Segundo Fraga, o BC fez “o melhor” para proteger o investidor.
“A nossa preocupação era evitar que o grande investidor saísse do fundo e que tivesse uma cota sem o valor corrigido pela metodologia estabelecida por nós e imputasse com isso uma perda permanente aos investidores de menor porte, que permaneceriam no fundo”, disse. Sem essa medida, segundo ele, os fundos teriam enfrentado problemas maiores porque qualquer investidor que percebesse que seu fundo não estava marcando poderia sacar com antecedência. “Havia um incentivo a saques e por isso a nossa decisão de agir rápido”.
Ele esclareceu também aos deputados que a regra de marcação a mercado já existia desde 1995. O BC procurou uniformizar as metodologias de marcação a mercado. “Havia muita diferença na forma de marcação e, além disso, havia alguns fundos que poderiam até não estar marcando a mercado. Isso é uma coisa a ser investigada”, afirmou.
Segundo Fraga, embora o episódio tenha trazido surpresas para os cotistas, as perdas foram minimizadas. O presidente do BC divulgou números sobre o padrão de saques no mês de maio. Até o final do mês, segundo ele, os volumes não fugiram do padrão. Em maio de 2001, o volume de saques foram de R$ 886 milhões e, em maio de 2002, de R$ 1,344 bilhão.
Ele também acredita que, depois das mudanças, haverá uma diferenciação de produtos no segmento de fundos. Serão fundos com títulos de prazos mais curtos, que terão retorno mais baixo. Mas, em compensação, o valor das cotas oscilará menos. Por outro lado, os títulos com prazos mais longos e maior volatilidade oferecerão ganho maior. Ele também insistiu que não vê preocupação em relação ao pagamento dos títulos.
“Dívida pública é perfeitamente administrável”
O presidente do Banco Central voltou a afirmar, durante audiência na Câmara, que considera um “grande exagero a volatilidade do mercado financeiro brasileiro nas últimas semanas”. Segundo ele, com o tempo, perseverança e tranqüilidade, a situação será superada, “como já superamos em outras ocasiões”.
Ele também insistiu que a dívida do setor público está em torno de 55% do PIB, é perfeitamente administrável. “Só depende da nossa vontade. Não há porque duvidar da direção do Brasil nessa área”, afirmou. Ele disse que considera as turbulências normais nesse momento de definição política, mas que é possível superá-las com debates mais ricos e precisos. Fraga disse que está confiante e que desses debates sairão boas propostas para o Brasil.
Adriana Fernandes e Gustavo Freire