Brasil mais arriscado
A agência de classificação de riscos americana Standard and Poor's rebaixou ontem à noite a nota do Brasil. O rating de crédito soberano de longo prazo em moeda local foi de BB+ para BB, enquanto o da dívida soberana de longo prazo em moeda estrangeira foi reduzido de BB- para B+. A decisão da S&P segue a tomada pelas concorrentes Moody's e Fitch, que também diminuíram a nota do país no último dia 20 de junho. Lisa Schineller, analista de crédito soberano para o Brasil da S&P, justificou a medida tendo em vista a expectativa de deterioração do perfil da dívida do país nos próximos meses.
“Estamos preocupados, sobretudo, com a dinâmica da dívida, dado o cenário da taxa real de juros e do câmbio. O peso da dívida não foi estabilizado. Do nosso ponto de vista, a situação não é boa e as pressões continuarão grandes”, disse Schineller, de Nova York, ao Jornal do Brasil. Segundo os cálculos da S&P, a dívida pública brasileira deve alcançar 70% do Produto Interno Bruto até o fim do ano, com o dólar batendo R$ 3.
Na opinião de Schineller, o governo brasileiro deve apertar ainda mais o cinto para alcançar um maior superávit fiscal primário – receitas menos despesas, sem contar o pagamento de juros – e assim diminuir ou, pelo menos, frear o crescimento da proporção dívida/PIB.
No mês passado, o governo aumentou o meta de superávit primário deste ano e de 2003 de 3,25% para 3,75% do PIB. “O aumento da meta é um exemplo do tipo de resposta que procuramos”, contou Schineller, que, no entanto, não considerou a alteração de junho suficiente. Sem querer citar números, ela deu uma pista do que seria ideal. “Ficaríamos mais tranqüilos com um número mais alto. Países com uma dívida do tamanho e estrutura como a do Brasil têm um superávit primário de 5% a 6% do PIB”, afirmou.
Schineller lembrou que o aumento ou diminuição da proporção dívida/PIB depende de uma equação que leva em conta a perspectiva de crescimento, o superávit primário e as taxas de juros e câmbio. Destas variáveis, disse, a mais fácil de mexer são os juros, mas isso só pode ser feito sem ameaça às metas de inflação e sem ir contra a tendência do mercado. “Se a pressão do mercado for aliviada, os juros podem cair, assim como o câmbio. Mas, no cenário atual, a dívida tende a subir”, reforçou.
Cesar Baima