A julgar pelos números do mercado financeiro das últimas semanas, a economia brasileira está à beira de uma grande ruptura. Os indicadores de mercado estão parecidos ou piores que os registrados no período que antecedeu a mudança do regime cambial brasileiro, de dezembro de 1998 ao começo de janeiro de 1999. A Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa, divulgou na semana passada que o saldo de investimentos estrangeiros ficou negativo em R$ 1 bilhão em junho. A evasão de recursos externos não era tão grande desde dezembro de 1998, quando saíram R$ 1,2 bilhão da bolsa. Os C-Bonds, títulos da dívida externa que servem de termômetro da confiança dos investidores internacionais no País, são hoje negociados em torno de 58% do valor de face, cotação semelhante à de dezembro de 1998, de 60%.
A Bovespa caiu 21,3% naquele mês e fechou junho com perdas de 13,3%. Especulação eleitoral Não se pode imaginar, no entanto, que os números do mercado hoje antecipem uma mudança brusca no rumo da economia. A principal diferença em relação a 1998 é que naquela época havia motivos fortes para a turbulência. O Brasil mal se recuperava dos efeitos da crise da moratória russa de agosto de 1998 e vieram dois golpes consecutivos: a reprovação no Congresso da taxação dos funcionários públicos inativos (àquela altura indispensável para a manutenção do sistema cambial) e a moratória da dívida estadual decretada pelo governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Os golpes abriram espaço para o ataque especulativo que levou ao fim do câmbio fixo no Brasil, em janeiro de 1999. Já a catástrofe econômica que os números do mercado financeiro hoje embutem é fruto de mera especulação eleitoral. Não há, por enquanto, motivos como os de 1998 para acontecer algo semelhante à liberação do câmbio, por mais que o dólar à beira dos R$ 3 nos faça acreditar nisso.
Economia real – E a economia real vem contribuindo para afastar o mau agouro do mercado financeiro. A economia brasileira é hoje é melhor do que a do fim de 1998. Basta observar os indicadores. A balança comercial acumula, apenas nos seis primeiros meses do ano, superávit de US$ 2,6 bilhões, enquanto encerrou 1998 com déficit de US$ 6,4 bilhões. Os investimentos externos diretos em 2002, estimados em US$ 18 bilhões, são menores do que em 1998 (US$ 24,5 bilhões). Mas hoje há menos recursos disponíveis no mundo. O PIB aumentou 0,13% em 1998 e as previsões para este ano vão de 2% a 2,5%. O interessante é que os próprios bancos que levam dólar e risco-Brasil às alturas, temendo calote do próximo governo, têm previsões otimistas para o fim do ano, como juros entre 16,5% e 17% anuais e dólar a R$ 2,50.
Rejane Aguiar