Que ameaças o senhor recebeu após a morte de Celso Daniel?
Elói Pietá – No dia seguinte à morte do Celso Daniel, logo após o enterro, houve dois telefonemas ao 190 da Polícia Militar de Guarulhos com ameaças de morte, afirmando que eu seria o próximo a sofrer um atentado semelhante.
O senhor havia recebido ameaças antes?
Pietá – Em 94 ligaram para a minha casa e disseram que eu seria o próximo a ser morto. Eu era deputado estadual, fui relator da CPI do Crime Organizado na Assembléia Legislativa de São Paulo. Uma CPI que foi das mais longas, quase quatro anos. Tratou de furto e roubo de veículos, roubo de cargas etc. Na esteira daquelas atividades muita gente foi presa, processada. Desde então utilizo seguranças. Em outubro do ano passado, uma testemunha denunciou a contratação de duas pessoas para me assassinar. Depois de cuidar da proteção à testemunha que nos alertou, levei essas informações ao secretário de Segurança Pública em meados de dezembro. Tínhamos notícia de que eram pessoas ligadas ao narcotráfico. Estavam insatisfeitas com algumas ações administrativas minhas, que haviam prejudicado os negócios ilícitos deles. Conversei com o secretário Petreluzzi, com o comandante geral da PM, e com o delegado geral da Polícia Civil. Por determinação do secretário minha segurança foi reforçada.
Apesar da existência de testemunhas nada foi apurado?
Pietá – As investigações ainda não concluíram nada. Na verdade, fica aquela história: você registra o caso, se depois você vier a morrer aí eles já tem uma pista. É um pouco assim que o pessoal trabalha com essas ameaças.
Quem o senhor supõe que seja autor dessas ameaças?
Pietá – Eu não vou poder entrar em detalhes. Não posso passar essas informações, porque realmente vou alertar o setor de quem suspeito. Até porque temos testemunhas, mas não temos provas.
Na tese dos interesses contrariados, alguma ação administrativa de Toninho, prefeito de Campinas, poderia Ter provocado sua morte?
Pietá – Eu conversei outro dia com a mulher do Toninho, a Roseana. Ela me falou que de tudo que ela pensou em termos de interesses contrariados que levassem ao assassinato, só via uma razão: a desapropriação de uma área onde a Infraero queria construir uma segunda pista do aeroporto Internacional de Viracopos. Era uma área dominada pelo tráfico de drogas. A desocupação de toda aquela região feria os interesses deles.
E no caso do prefeito de Santo André, Celso Daniel?
Pietá – Ele era um dos prefeitos aqui da grande São Paulo que julgava que o município tinha de contribuir na área da segurança pública através da ação da Guarda Municipal e de ações preventivas como programas sociais em áreas de grande incidência de crimes. Ele aprofundou a ação do município na área de segurança pública. Criou uma pioneira secretaria municipal de combate à violência.
Na sua opinião, qual a hipótese mais provável para o seqüestro e morte dele?
Pietá – No caso do Celso Daniel eu continuo com duas hipóteses. Uma que tenha sido um crime comum de seqüestro. Outra que seria uma reação do crime organizado a ações que contrariaram seus interesses. A hipótese do crime comum teria mais ou menos a seguinte seqüência: sequestradores agem sobre pessoas que aparentam ser ricas visando o resgate em dinheiro. A Pajero era uma ostentação. Mas depois descobrem que estão com uma bomba na mão. Então acontece o desfecho que todos sabemos. A outra hipótese é que a criminalidade organizada esteja querendo dar um recado para as instituições brasileiras de que mudaram o estilo de ação deles. Essa é a minha grande preocupação: que nós estejamos num processo de escalada de violência contra todo mundo que se interponha contra os interesses do crime organizado. É possível que haja uma conexão entre os assassinatos do Toninho e Celso Daniel e os atentados contra o Eduardo Capobianco, do Instituto São Paulo Contra a Violência, e contra o promotor de justiça Roberto Porto, que investigava a máfia chinesa e o PCC. Uma reação de interesses contrariados do crime organizado. Estariam mostrando que agora estão atingindo autoridades públicas, como aconteceu em Belo Horizonte, no caso do promotor Francisco Lins do Rêgo. Pode não ter uma conexão articulada, mas um faz num lugar o outro faz em outro. Aí o modelo começa a ser copiado.
Só a elucidação dos casos é que vai nos dizer quais das hipóteses levantadas é que tinha efetivamente consistência. Se a de crime comum ou a de eliminação de um político pela ação política que ele faz.
O senhor não considera a hipótese de crime político no caso do prefeito de Santo André?
Pietá – Eu não ponho políticos na suspeição desses crimes. Não vejo esse quadro no cenário político. Nem vejo que disputas políticas na região do ABC estejam por trás disso. Ainda que o Vicentinho tenha sido alvo de um complô para eliminá-lo, tempos atrás.
E quanto ao empresário Sérgio Gomes da Silva, amigo de Celso Daniel?
Pietá – A Delegacia de Homicídios de São Paulo e a Delegacia anti-seqüestro agiram de uma maneira correta. O delegado Wagner Giudice e o delegado Armando – encarregado atual das investigações – têm agido de maneira correta, buscando o esclarecimento do crime. Acho que o Sérgio tem de ser investigado. Afinal, ele estava no local, dirigia o carro etc. Tinha informações privilegiadas sobre o Celso, o trajeto dele etc. Só que a Polícia Federal pulou a cerca da ética e transformou a investigação num processo com fins políticos e não para esclarecer o caso. Para ser bem claro, digo que a polícia está certa ao pedir a quebra do sigilo telefônico do celular do Celso Daniel. Porque era o celular que ele portava no dia do crime. O aparelho ficou na mão dos bandidos. Mas quebrar o sigilo bancário do Celso Daniel é inclusive uma atitude sórdida. Na verdade, querem dar a entender que o próprio Celso seria o culpado do crime. A Polícia Federal vai precisar de muito tempo para eu recuperar o conceito que eu tinha dela. Sentada a poeira dessa questão nós vamos ter de investigar aqueles que investigaram.
Matéria retirada do Web Site www.no.com.br (Noticia e Opinião)
Guto Dias Pires