O mercado de aparelhos usados será responsável por 11% de todas as vendas de telefones celulares na América Latina entre 2002 e 2006, segundo pesquisa da consultoria Pyramid Research. O motivo, diz a analista Juliana Abreu, autora do trabalho, é a falta de aparelhos mais baratos no mercado. “Os fabricantes lançam aparelhos cada vez mais sofisticados, com novos recursos, para atrair compradores novos ou quem pretende trocar o telefone antigo. O problema, na América Latina, é que o segmento de assinantes com maior renda já atingiu um ponto de maturação e é preciso atrair os consumidores mais pobres agora. E esses não têm condições de comprar esses aparelhos de última geração”.
Com o crescimento dos usados, os fabricantes deixarão de faturar US$ 2 bilhões na região. No Brasil, 1,1 milhão de celulares novos deixarão de ser vendidos, com perda de US$ 900 milhões.
Além dos aparelhos usados recondicionados por pequenas empresas para venda, muita gente dá ou vende seu celular usado quando compra um novo, aponta a analista. E um novo fator vai ampliar ainda mais esse mercado: a entrada de celulares de segunda mão, vindos dos Estados Unidos – onde o sistema de telefonia está mudando. Miami, na Flórida, está se tornando base de empresas que recondicionam aparelhos usados naquele país e os exportam para o mercado latino-americano. “Ao mesmo tempo em que ganham com a migração de tecnologias nos EUA, os fabricantes perderão com a invasão desses telefones na América Latina”.
Para a analista, uma opção para as fabricantes não perderem espaço – e aumentarem o número de assinantes em mercados de baixa renda e o lucro – seria a oferta de celulares baratos. “Os grandes fabricantes poderiam lançar marcas separadas, com celulares bem baratos”, diz ela. “Isso permitiria que os fabricantes atendessem à enorme demanda por celulares baratos na América Latina, sem comprometer suas marcas principais”. As operadoras também se beneficiariam, “pois seus clientes teriam acesso a aparelhos novos, mais confiáveis”.
As operadoras, para aumentar os lucros, querem parar de subsidiar a venda de telefones para atrair novos clientes. Por isso, em países como Paraguai, por exemplo, as telecoms já vendem aparelhos de segunda mão. “O mercado secundário permite às operadoras a redução dos custos de aquisição e o crescimento lucrativo de sua base de assinantes nos segmentos de baixa renda”.