Recusar cheques de clientes cujas contas-correntes tenham pouco tempo de existência é uma prática que tem se tornado comum no comércio de São Paulo. Os lojistas justificam a prática afirmando que esse tipo de cheque é responsável pela maior parte dos casos de inadimplência.
As lojas da Camisaria Colombo não aceitam cheques de clientes cujas contas tenham sido abertas há menos de um ano. Segundo a Colombo, essa política comercial foi implantada em todas as lojas da rede há mais de um ano, por conta do alto índice de devolução de cheques nas transações com esses clientes.
O gerente da Colombo da Avenida Paulista, Antônio Barros, afirma que, hoje, 80% das lojas de shopping centers não aceitam cheques de contas com menos de um ano de abertura. “Nós até aceitamos o cheque, mas só entregamos a mercadoria após a sua compensação”. Para deixar avisar o consumidor, a loja colocou placas na vitrine e nos caixas com essa informação, além de avisos nos folhetos promocionais.
Barros diz que, logo que a exigência foi imposta, muitos clientes reclamaram. “Havia gente que vinha até a loja com a polícia e até com oficial de Justiça. Hoje, os clientes já estão acostumados”.
A loja de artigos esportivos Roxos e Doentes também não aceita cheques provenientes de contas-correntes recentes. Nesse caso, com menos de seis meses de existência. “Rejeitamos esse tipo de cheque porque é certo que, quanto mais nova é a conta, maior a probabilidade de o cheque ser devolvido”, justifica Eduardo Rosemberg, sócio-proprietário da empresa. Ele lembra ainda que a combinação “cheque pré-datado e conta nova” é ainda pior.
“As duas coisas juntas têm um resultado crucial. Nesses casos, a devolução do cheque é praticamente certa”.
A prática foi adotada na Roxos e Doentes há cerca de dois anos e não teve impacto direto no faturamento das lojas, segundo Rosemberg. “Os clientes não reclamam, até porque nas lojas há placas informando as regras para a aceitação de cheque”.
Exigência é garantia para as lojas
Também as lojas da rede Bizzarre, que trabalha com moda jovem, não aceitam cheques de contas abertas há menos de seis meses. A orientação partiu da Supercrédit, empresa que controla as finanças da rede. “Essa é uma forma de nos proteger das pessoas que dão calote, porque os bancos não garantem os cheques de contas com menos de seis meses de existência”, explica o assistente financeiro da Bizzarre, Renato Bezerra.
A única exceção aberta para cheques desse tipo ocorre no caso de o cliente concordar em dar uma entrada em dinheiro, explica Bezerra. Nas lojas da Bizzarre, há avisos nos caixas, nas vitrine e nos provadores informando as restrições.
AIANA FREITAS