Com juro alto, venda no crediário diminui
O movimento de consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito, SCPC e ao UseCheque – indicadores de vendas no crediário e a vista – levantados quinzenalmente pela Associação Comercial de São Paulo, ACSP, manteve-se praticamente estável na primeira quinzena de março, em relação a igual período de 2001, com queda de 0,3% na média dos dois sistemas. Os telefonemas ao crediário somaram 730.562, com retração de 4,6% na primeira quinzena deste mês, em comparação aos números de março do ano passado. Já as consultas ao UseCheque foram 819.291, significando um aumento de 4,0% em relação à primeira quinzena de março do ano passado. A queda das vendas parceladas pode ser justificada pela base forte contabilizada na primeira quinzena de março de 2001, quando a economia do País crescia e apresentava uma taxa de juros bem inferior a deste ano (18,75%), no patamar de 15,25%.
Também contribuíram para a redução das vendas a prazo a queda da massa salarial do trabalhador no ano passado e da maior cautela por parte do comércio e do próprio consumidor. Já os negócios a vista mostram que o freguês continua levando para casa apenas bens de menor valor, como roupas e calçados. “O paulistano tem aproveitado as últimas liquidações de verão e os lojistas estão usando mais constantemente o novo serviço da Associação Comercial, o UseCheque, que se tornou mais eficiente”, comenta Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo, que divulgou os dados. Para Burti, a redução da taxa básica de juros, a Selic, na última reunião do Comitê de Política Monetária, Copom, criou uma expectativa positiva para o mercado, que vem apostando em novas quedas das taxas. Dessa forma, o varejo poderá ampliar os prazos de crediário, ampliando os negócios. “A expectativa é de nova redução das taxas na reunião do Copom que acontece esta semana. Só assim a economia poderá se recuperar a partir do segundo trimestre e o PIB de 2002 alcançar um crescimento razoável”, explica.
Previsões – Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial, acredita que as vendas em dinheiro continuarão crescendo na segunda quinzena de março por conta dos festejos de Páscoa, com aumento das vendas de chocolates e alimentos, geralmente adquiridos com cheques. Segundo ele, os negócios no crediário devem encerrar o trimestre com retração da ordem de 3,5%, em relação a igual trimestre do ano passado. “As vendas a prazo só irão apresentar números mais favoráveis a partir de abril, com a proximidade da Copa do Mundo e do Dia das Mães e quando a base de comparação começa a enfraquecer”, prossegue o economista. Segundo ele, um empate de faturamento pode ser considerado um bom resultado, já que a base de 2001 era bastante elevada.
Inadimplência – Os carnês em atraso (registros recebidos) somaram 164.671 na primeira quinzena do mês. Isso representou uma queda de 6,9% em relação a março de 2001 e um aumento de 19,5% em relação a igual período de fevereiro. Burti lembrou que o aumento em relação à fevereiro decorre da sazonalidade do indicador. “Os registros de março refletem o atraso de pagamentos das compras feitas no Natal”, explica. Ao contrário, ocorreu um aumento expressivo no pagamento de débitos atrasados (os cancelamentos). Na primeira quinzena, os registros cancelados cresceram 18,8%, em relação a igual período de março do ano passado e 25,9% em relação a fevereiro. Burti destaca que o aumento reflete as fortes campanhas do varejo e da própria Associação Comercial para reabilitar o crédito do paulistano. “A Associação Comercial lançou no último dia 15, data dedicada ao consumidor, uma cartilha orientando o devedor a retirar seu nome do cadastro negativo, sem gasto algum”, destaca.
Insolvências – As falências requeridas tiveram um salto de 59% na primeira quinzena. Passaram de 183 na primeira quinzena de março do ano passado para 291 neste ano. Segundo Burti, estes números nem sempre podem ser extrapolados para o mês. “Mas é preciso acompanhá-los com mais atenção nos próximos meses”, arremata.
Teresinha Matos