O poder de compra das classes de renda mais baixa já é uma aposta do varejo, mas a concessão de crédito para esse segmento de consumidores tem particularidades que exigem atenção especial dos lojistas. A principal delas ocorre nas situações em que o consumidor interessado em determinado produto, em geral móveis ou eletrodomésticos, não tem meios de comprovar renda ou residência. Nesse caso, recorre a outra pessoa em condições de acesso ao crédito para efetuar a compra em seu nome.
E aí reside o risco maior de inadimplência. “Nossos dados mostram que trinta por cento dos casos de inadimplência no crediário acontece em compras feitas por terceiros”, observa Carlos José Bertini, gerente de Negócios da Associação Comercial de São Paulo e que fará palestra dia 21 deste mês na sede da entidade sobre esse tema. “Uma das alternativas para minimizar o risco desse tipo de operação no crediário é checar se o endereço para a entrega da mercadoria é o mesmo da residência fornecida pelo comprador na loja”, recomenda.
O levantamento da Associação inclui ainda como as outras causas da inadimplência o desemprego (39%), a redução de renda do consumidor (4%), o descontrole de gastos (4%) e, por último, o desemprego na família (1%). Procedimentos – Com a proximidade do período do ano de maior pico de vendas no comércio, vale destacar algumas normas que Bertini considera básicas para os comerciantes que já estão afiando suas ferramentas de crédito à clientela para alavancarem ainda mais os negócios no Natal. A começar pela análise criteriosa da veracidade das informações contidas na documentação apresentada pelo postulante ao crediário. “Também é importante não só observar a relação entre salário e prestação como a devida comprovação de renda”, alerta o gerente de Negócios da Associação.
O lojista também deve dar atenção às fontes bancárias, se elas existirem, exibidas pelo candidato ao crédito, da mesma forma em relação às referências comerciais disponíveis sobre o cliente. “Mas o mais importante é fazer a consulta aos serviços do banco de dados da Associação, como o SCPC e o UseCheque, que dão garantia ainda maior à operação de crédito”, enfatiza Bertini. Potencial – Na palestra que fará sobre consumidores de baixa renda e concessão de crédito, Bertini também traçará um perfil sócio-econômico desse público e o potencial que representa para o mercado de consumo. “São 132 milhões de pessoas pertencentes às classes C, D e E ou 78,4 por cento da população brasileira”, lembra Bertini, referindo-se aos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativos a 1999 e que serão exibidos durante sua exposição. Segundo ele, esse enorme contingente de pessoas vem dando mostras de poder de consumo desde o Plano Real e a estabilidade da moeda, estimulado pelo maior acesso à informação e à propaganda gerada pelo varejo.
Mas o fator principal que tem contribuído para o acesso desse segmento ao mercado de consumo é o crediário facilitado. “Muitas lojas parcelam a compra em até 24 vezes, o que dá uma prestação de 30 ou 40 reais para a aquisição de um eletrodoméstico, por exemplo, e que cabe no orçamento das pessoas.”