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Custos inibem abertura de capital das empresas

Guarulhos, 18 de julho de 2002

O custo de abertura de capital é um dos principais fatores que inibe a entrada de companhias no mercado. Segundo especialistas, os gastos envolvidos podem ficar entre 5% e 8% do valor total da captação de recursos. O exemplo mais recente é a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), que emitiu R$ 300 milhões em ações no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo e gastou R$ 15 milhões só no processo de abertura.

A empresa de software Microsiga quer entrar no mercado, mas os gastos foram bem avaliados na decisão. “Há custos que podem limitar o número de companhias”, acredita o vice-presidente financeiro, José Rogério Luiz. Os passos para a montagem da operação começam com a contratação de uma auditoria externa para o levantamento dos balanços. José Luiz Carvalho, sócio da KPMG, avalia que o valor entre R$ 100 e R$ 150 por hora está dentro da média do mercado. Segundo ele, a auditoria pode levar de dois a três meses.

As empresas também precisam de advogados para organizar a estrutura societária e providenciar os documentos. O advogado especializado Manoel Monteiro, da Amaro Stuber, disse que a hora trabalhada pode sair por R$ 250.

O maior peso entre os gastos fica por conta dos bancos coordenadores. No caso da CCR, 3,5% da emissão – cerca de R$ 10 milhões – foram para as instituições. Mas essa taxa pode variar. “Depende da complexidade do negócio”, afirmou a diretora de renda variável do Unibanco, Gustava Heller. Para ela, o processo de abertura não é um grande impeditivo. “A principal análise é saber se vale a pena emitir ações ou se financiar com dívida.” O preço depreciado dos papéis em Bolsa desestimula as companhias e cria um ciclo vicioso: o momento é arriscado, os bancos cobram caro e as empresas não se arriscam.

Para quebrar o ciclo, especialistas recomendam uma melhora das condições do mercado. Assim, existiriam mais companhias interessadas em abrir o capital e maior concorrência entre os bancos.

Há ainda o custo das publicações. O mais pesado é o prospecto, um importante documento com todas as informações sobre a operação, que pode sair entre R$ 100 mil e R$ 500 mil. As companhias também precisam do registro da Comissão de Valores Mobiliários (R $ 83 mil) e pagar a anuidade da Bovespa (entre R$ 5 mil e R$ 400 mil). A gerente de projetos especiais da Bolsa, Maria Helena Santana, proporá à CVM um registro simplificado para companhias de menor porte. “A intenção é baratear e facilitar.”

Daniela Milanese