Desafio para 2003: criar empregos
O combate ao desemprego deverá ser um dos principais desafios do sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), o Brasil precisa criar, a cada ano, cerca de 1,6 milhão de empregos, apenas para corresponder ao crescimento da População Economicamente Ativa (PEA). Mas a ausência de um compromisso claro dos presidenciáveis com propostas para o problema preocupa empresários e estudiosos do tema.
“Será que os candidatos estão dispostos a mudar a qualidade das nossas leis trabalhistas? Ninguém fala em reforma trabalhista, da previdência e flexibilização dos contratos de trabalho”, avalia o economista José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP).
O presidente do Grupo Votorantim, Antonio Ermírio de Moraes, defende que os candidatos deveriam dar prioridade ao assunto. “Não vi nada a respeito até agora.”
Dados recentes mostram a dramaticidade da atual situação do mercado: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou que o índice de desemprego em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) atingiu, em abril, 7,6% da PEA desses locais, o maior porcentual em dois anos.
A Fundação Seade e o Dieese mostraram que 20,4% da PEA da região metropolitana de São Paulo não têm emprego, um recorde desde 85.
A Toledo & Associados apurou que um de cada dois lares da cidade de São Paulo tem alguma pessoa sem emprego formal. “O crescimento de postos de trabalho não tem acompanhado a expansão da PEA”, explica a gerente de Análise e Estudos Especiais da Seade, Paula Montagner.
Os dados que comprovam: entre 95 e 2001, a PEA da região metropolitana de São Paulo cresceu 12,1%, de 8,22 milhões de pessoas para 9,21 milhões. No mesmo período, o total de ocupados teve elevação de 6,5%, ao subir de 7,13 milhões de pessoas para 7,59 milhões. O total de desempregados na região saiu de 1,08 milhão para 1,62 milhão, uma alta de 49,5%.
Os remédios para o problema
Mas o desemprego não poderá ser combatido com um único remédio, alertam especialistas. Crescimento econômico sustentado e reorganização institucional do mercado de trabalho são os pilares de sustentação para garantir o estímulo à geração de empregos.
Além disso, dizem os especialistas, políticas paralelas de criação de emprego terão de ser implementadas pelo Estado, como o aumento das contratações em caráter temporário e a centralização de informações sobre mercado de trabalho, como a disponibilidade de vagas em cada região e qualificação necessária para preenchê-las.
Porém, a contratação de pessoal pela administração pública causa polêmica pelo desequilíbrio nas contas públicas.
E segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a participação de trabalhadores do setor público na população total no Brasil está abaixo da média internacional, atingindo 11,5% da população. Nos EUA, é de 16%.