Desemprego força a inadimplência
O desemprego continua sendo a principal causa da inadimplência em São Paulo. É o que revela a pesquisa sobre inadimplência realizada pelo Instituto “Gastão Vidigal” da Associação Comercial de São Paulo, ACSP. O estudo que é trimestral ouviu 819 consumidores inadimplentes que foram ao balcão de atendimento do Serviço Central de Proteção ao Crédito, SCPC. Cerca de 67% dos consumidores com prestação em atraso estão desempregado ou tem alguém da família sem trabalho fixo. Em setembro do ano passado, o desemprego representava apenas 56% das respostas e, em março de 2001, somente 40%. “Em março de 2001, não havia crise argentina, racionamento, problemas no câmbio, a queda forte na bolsa de valores norte-americana, entre outros fatores”, avalia o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri.
Bom pagador – Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, o brasileiro é, no geral, um bom pagador. “O desemprego não é apenas o principal responsável pela inadimplência, mas também provoca a desestruturação das famílias e frusta as expectativas dos jovens que buscam inserção no mercado de trabalho”, diz. Alencar Burti entende que o próximo governo, a ser eleito em outubro deste ano, deve dar prioridade ao crescimento econômico sem perder de vista a estabilidade, procurando mobilizar toda a potencialidade do País e, especialmente, os empresários atuantes e os futuros empreendedores. “Com juros altos, tributação elevada e muita burocracia, não será possível fazer a economia crescer para gerar os empregos necessários e renda para a maioria da população, que ainda é extremamente carente”, ponderou. O presidente da Associação Comercial de São Paulo destacou o esforço do comércio e das companhias financeiras no sentido de facilitar a renegociação dos débitos do paulistano em atraso com suas obrigações. “Além de oferecer informações gratuitas no balcão do SCPC, a entidade está distribuindo a cartilha “Como limpar o nome na praça”, lançada em março, que orienta os inadimplentes.
Positivo – Os inadimplentes continuam desempregados. Entre os que apontaram a falta de trabalho como causa do atraso do pagamento de compromissos, 44% continuam desempregados, número semelhante ao da pesquisa anterior (45%). Mas há um fato positivo. “Cerca de 62% dos que disseram ter conseguido um novo emprego possuem carteira assinada”, destaca Alencar Burti. Na última pesquisa, em setembro eram apenas 55%. Os consumidores inadimplentes estão em sua maioria na faixa etária entre 21 e 40 anos (71%) e ganham entre R$ 351,00 e R$ 1.000,00 (58%) mostra o estudo.
Mais atingidos – O comércio é o setor mais atingido (44%), seguido dos bancos (25%) e das financeiras (16%). Os principais produtos financiados que causaram o débito foram os eletrodomésticos (22%), seguidos de roupas e calçados (16%). Os carnês continuam sendo o instrumento mais utilizado para a compra parcelada (50%) entre os com prestações atrasadas, seguido dos cheques (36%). O estudo mostra também que 59% dos inadimplentes possuíam mais de um carnê em atraso. Em setembro, eram 45% e, em março de 2001, 9%.O prazo mais freqüente da compra dos pesquisados foi de 8 a 12 parcelas (44%) e o valor das prestações dos carnês em atraso em 63% das respostas giravam de R$ 51,00 a R$ 200,00. A cautela continua sendo a tônica do brasileiro revela o estudo. Somente 38% dos entrevistados pretendem voltar comprar a crédito, enquanto 52% não querem fazer mais prestações. Outro ponto positivo do estudo é que mostra que apear dos problemas, o brasileiro se mantém otimista, 73% dos pesquisados acham que 2002 será melhor. “É o melhor resultado da pesquisa desde que ela teve início, superando o otimismo de 2000, quando 63% entendiam que o ano seria bom”, explica Alfieri.
Teresinha Matos