ACE-Guarulhos

Diesel vegetal será testado para produção

No mês de agosto começa a ser testada, numa planta piloto da Universidade de Brasília (UnB), a fabricação de combustível a partir de produtos vegetais. A experiência deverá apontar a viabilidade econômica da produção de diesel a partir de óleo de soja, mamona, dendê e borra (resíduo) de óleo de soja, na zona rural brasileira. As pesquisas já vêm sendo desenvolvidas pela UnB em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) há um ano.

Ainda não há prazo para a finalização do projeto, que tem por objetivo tornar viável a fabricação do diesel dentro da propriedade rural. Os pesquisadores das duas entidades descartam a possibilidade de venda do diesel vegetal fabricado pelos agricultores para o transporte nacional de larga escala. “O que queremos com o projeto é diminuir os custos de produção do agricultor, que terá possibilidade de fabricar o seu próprio combustível”, diz o coordenador do Laboratório de Materiais e Combustíveis da UnB, Joel Rubim. As pesquisas em laboratório já apontaram que, para cada 100 gramas de óleo vegetal, é possível obter 70 gramas de óleo diesel e 25 gramas de gasolina, querosene e hidrocarbonetos leves. A gasolina e a querosene obtidas a partir do óleo serviriam apenas para o abastecimento do próprio processo de produção, de acordo com o parecer dos pesquisadores.

As conclusões obtidas nos laboratórios de química agora serão postas à prova na planta piloto, uma simulação do futuro ambiente produtivo. “Uma coisa é o processo em laboratório e outra é a produção na planta”, explica Rubim. A Embrapa e a UnB estão empenhadas tanto no desenvolvimento do processo de fabricação como dos equipamentos necessários para a elaboração do combustível na zona rural.

Planta – A planta piloto que testará a produção do combustível vegetal está em fase de construção dentro da própria UnB. O balanço energético, que será feito no local, ajudará a definir a viabilidade econômica do projeto e o balanço de massa será responsável por confirmar quanto óleo diesel pode ser obtido de cada grama da gordura vegetal. Segundo o pesquisador da Embrapa, Elias de Freitas Júnior, esse tipo de assunto vem sendo pesquisado há alguns anos, mas a novidade é a sua viabilidade junto ao agronegócio. “Uma commodity como a soja poderia ganhar valor se transformada em combustível”, diz Elias. O pesquisador diz que o processo de transformação do óleo vegetal em diesel é simples.

Diesel – O diesel é atualmente o combustível mais utilizado no Brasil. Além de abastecer o transporte rodoviário, ele é utilizado em motores de trens e navios e em processos produtivos nas empresas. “Nossa matriz de transporte é baseada no diesel”, diz Elias. O Brasil consome atualmente 36 bilhões de litros de óleo diesel por ano e importa em torno de 30% desse total. As importações alcançam em torno de 10,8 bilhões de litros ao ano. Já a produção nacional de óleos vegetais chega a 3,6 bilhões de litros anuais, volume insuficiente para substituir as importações. A Petrobrás vem apoiando um projeto similar, chamado Programa Brasileiro do Biodiesel, porém com a proposta de adicionar diesel vegetal ao diesel comum. Nesse caso, o objetivo é reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera e também as importações do produto. A proposta do projeto é adicionar 10% de diesel vegetal ao produto tradicional utilizado no transporte nacional.

O programa foi criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e tem apoio de diversos órgãos e empresas como a Associação das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Centros de Pesquisa e setor sucroalcooleiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, há experiências recentes com o biodiesel. Em São Francisco, na Califórnia, alguns postos abastecem veículos com óleo vegetal normalmente usado nas cozinhas de redes de fast food.

Óleos – Diferente do óleo diesel tradicional, o óleo vegetal é livre de enxofre, o que o faz poluir menos o meio ambiente. O produto, por ser feito a partir de plantações, não é finito como o petróleo, e pode ser absorvido pela natureza em menor tempo. O objetivo da Embrapa é desenvolver equipamentos de baixo custo que permitam a implementação da produção do óleo diesel vegetal nas propriedades rurais. “Seria uma opção para agricultores que residem em locais onde a soja é barata, mas o diesel é caro”, diz Elias. A grande inovação técnica do projeto é o desenvolvimento de um catalisador que acelera o processo e elimina compostos oxigenados que são corrosivos e diminuem a eficiência da combustão. O processo já está sendo patenteado pelos dois órgãos.

Isaura Daniel

Sair da versão mobile