Documentos perdidos em incêndio são irrecuperáveis.
A direção da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo) informou que, no momento, não é possível avaliar com precisão a quantidade de obras destruídas pelo incêndio desta madrugada, mas que certamente diversos documentos raros foram perdidos.
O fogo, que começou por volta das 0h30, atingiu o segundo andar do edifício principal da ECA, na Cidade Universitária, em São Paulo, onde se localiza parte dos departamentos de CTR (Cinema, Rádio e Televisão) e de CCA (Comunicações e Artes), destruindo equipamentos e causando o desabamento de parte do telhado.
De acordo com o vice-diretor da ECA, Luiz Milanesi, no local onde o incêndio se concentrou eram guardados documentos raros da história da telenovela brasileira. “Com certeza foram destruídas raridades que só existiam aqui. São anos e anos de história e trabalho que foram perdidos para sempre”, afirmou ele.
Entre os documentos raros que podem ter sido destruídos pelo fogo estão as sinopses e capítulos originais de diversas novelas da Rede Globo, gravações históricas das primeiras radionovelas brasileiras, fotos, centenas de entrevistas com atores e diretores, teses e trabalhos elaborados por alunos e professores da ECA, coleções de enciclopédias, além de diversos filmes e documentários produzidos pela instituição.
Com lágrimas nos olhos, a coordenadora geral do Departamento de Comunicação e Arte da ECA, Solange Martins Couceiro, afirmou que parte da vida acadêmica e intelectual da universidade foi destruída para sempre.
Solange lembra ainda que uma das coleções mais valiosas, que provavelmente foi destruída, são os documentos do acervo de Ismael Fernandes, o primeiro pesquisador de telenovelas do país.
Segundo estimativas dos professores, que se concentravam em frente ao prédio interditado, foram destruídos três núcleos de pesquisa [comunicação e educação, teledramaturgia e pesquisa de educação infantil], dois laboratórios, salas de aula, além dos respectivos acervos.
A coordenadora do Centro de Documentação de Telenovelas da ECA, Maria Ataide, lamentou o incêndio. “Temos documentos do início da década de 50. Uma coleção completa da história da teledramaturgia brasileira que é referencia para pesquisadores do Brasil e do exterior”, afirmou ela, lembrando que a destruição de tal acervo pode comprometer o futuro de centenas de novas pesquisas.
O diretor da ECA, Waldenyr Caldas, estima que cerca de 150 pessoas, em média, visitem os núcleos da faculdade diariamente.
Avaliado pelo Corpo de Bombeiros como de média proporção, o incêndio só foi controlado por volta das 5h desta terça-feira. Foram enviados ao local 26 viaturas e aproximadamente 60 homens.
O tenente Elifelete, que comandou parte da operação, afirmou que o incêndio pode ter começado a partir de um curto circuito. “Um aparelho ligado por muito tempo pode ter se aquecido demais”, afirmou ele, informando ainda que a temperatura no local superou os 600ºC.
Apuração
A diretoria da ECA já abriu uma sindicância para apurar o incêndio que atingiu o prédio principal da unidade. Professores da Poli (Escola Politécnica da USP) e da Consultoria Jurídica da universidade também fazem parte da sindicância.
Segundo Waldenyr Caldas, a maior perda provocada pelo incêndio é de ordem cultural, e não acadêmica ou monetária e as suas causas têm de ser apuradas.
Aulas
Devido ao incêndio, o Corpo de Bombeiro interditou o edifício o que obrigou à direção da ECA a suspender as aulas no CCA e no CTR até o final de semana.
O vice-diretor da ECA, Luiz Milanesi, afirmou que já está estudando uma maneira de remanejar os alunos. “Estamos tentando arrumar salas nos prédios das outras faculdades vizinhos para tentar minimizar o impacto do incêndio no andamento do semestre”, disse ele.
A FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), o IP (Instituto de Psicologia) e a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) já ofereceram algumas de suas salas.
A equipe do Contru (departamento de uso e controle do imóveis) de São Paulo, informou à direção da ECA que a liberação do prédio só deve acontecer depois da elaboração de um laudo técnico, que deve ficar pronto em 48 horas.