Expansão maior do crédito só vai acontecer em 2003
Finalmente uma boa notícia para as empresas. Profissionais da área econômica acreditam que em 2003 poderá haver um volume maior de crédito à disposição das companhias. Para financiar o seu balanço de pagamentos, cujos compromissos cresceram com o aumento da dívida pública, o governo terá de recorrer cada vez mais ao saldo da balança comercial – exportações menos importações. E para que esse saldo continue positivo, será necessário investir nas empresas nacionais, dando condições aos bancos para que eles concedam mais crédito para a produção de bens destinados à exportação. “As empresas serão as grandes beneficiadas com um volume adicional de recursos à disposição”, diz Alberto Borges Matias, presidente da ABM Consulting.
Perdido – O ano de 2002, porém, já é considerado pelos analistas como perdido. Risco-país e taxa de câmbio nas alturas, por conta da eleição presidencial, vão continuar deixando tomadores e bancos cautelosos quando o assunto é emprestar dinheiro. O temor é de não ter condições de pagar a dívida, no caso dos tomadores, e de não receber o que foi emprestado, no caso dos bancos.
Estagnação – Nem mesmo a redução de 0,50 ponto porcentual da taxa básica de juros, a Selic, que abre espaço para novos cortes até o final do ano, deverá conseguir reverter a tendência de estagnação do volume de crédito brasileiro esse ano. Até maio, último dado disponível no Banco Central, o volume de crédito liberado para pessoas juridicas somou R$ 125 bilhões. Se somado ao volume emprestado para as pessoas físicas, de R$ 77 bilhões, o número representa pouco mais de 23% do Produto Interno Bruto, PIB. E a expectativa até o final do ano é de que as operações atinjam no máximo 30% do PIB, como ocorreu nos dois últimos anos, o que é muito limitado. Em 2001 foram liberados R$ 319 bilhões e, em 2002, R$ 332,5 bilhões. “Essa situação deve perdurar até mesmo quando o novo presidente for anunciado. Só deveremos ver alguma mudança nesse quadro quando o novo governo apresentar propostas concretas, que beneficiem diretamente o crédito”, diz Jorge Levy Prada, presidente da Associação dos Bancos Comerciais, ABBC.
Recuperação – Prada também concorda que as empresas deverão ser as principais beneficiadas, porque o governo terá de reativar a economia, que em dois anos 2001 e 2002) deverá crescer apenas 3,5%. “Deverá ocorrer uma injeção de recursos nas empresas e só depois ser verificado um aumento na demanda por crédito por pessoas físicas, na hora de compras parceladas”, diz Prada Salto.
De acordo com estudo realizado pela ABM Consulting, com exclusividade para o Diário do Comércio, a participação do crédito destinado às pessoas físicas passou de 25%, no início de 1997, para cerca de 38%, em maio de 2002. O salto é explicado pela estabilidade advinda com o Plano Real, que favoreceu o consumo.
Procura cai – Com a queda da atividade econômica e o aumento da inadimplência de pessoas físicas – que atingiu 15% em maio, último dado disponível no Banco Central -, porém, a procura por crédito pelas pessoas físicas diminuiu. E para que ela volte a crescer, entendem os analistas, será necessário investir primeiro na concessão de empréstimos à pessoa jurídica, a fim de impulsionar novamente a economia, com a criação de empregos e aumento da renda do trabalhador, que darão condições para a retomado do consumo.
Governo atrapalha – O economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo, lembra ainda que só haverá mais recursos nos bancos quando o governo deixar de ser o grande tomador de dinheiro na praça. Ele diz que é preciso o governo diminuir a sua necessidade de financiamento pelo menos pela metade. “Isso pode ser feito cortando gastos ou aumentando as receitas, o que parece muito difícil, ou através de cortes nos juros”, diz Alfieri.
Adriana Gavaça