Falhas nos bancos travam operações com títulos no novo SPB
As grandes instituições financeiras enfrentaram problemas no segundo dia de operações no novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Alguns bancos tiveram dificuldades em concluir as operações por falhas em seus sistemas operacionais. As transações financeiras ficaram restritas e, por mais um dia, não houve negociação com títulos públicos no sistema Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), cujo giro médio na semana passada ficava em R$ 300 bilhões.
Segundo a assessoria da Andima (Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto), que compila os negócios com títulos públicos, as falhas operacionais dos grandes bancos têm impedido a divulgação dos resultados desde segunda-feira. Os principais problemas ocorreram, por exemplo, quando os bancos tentavam enviar mensagens para confirmar uma operação com outra instituição e, por falhas em seu sistema operacional, a mensagem não era completada. A transação ficava sem confirmação e precisava ser refeita.
Outro transtorno era quando as linhas de transmissão de dados dos bancos para o Banco Central (BC) eram interrompidas devido à sobrecarga de informações. “Mas só houve problemas operacionais. Não há nenhuma irregularidade com a saúde financeira das instituições”, disse um diretor de tesouraria de um banco estrangeiro. Nestes casos, o BC prorrogou o prazo de liquidação das transações ou as próprias instituições financeiras cancelaram os negócios. O BC determinou que, em caso de problemas na comunicação localizados em apenas um tipo de mensagem, o banco poderia entrar em contingência e o custo seria de R$ 3 mil por mensagem. A medida é adotada no caso de dificuldades de comunicação e as mensagens passam a transitar por meio de internet, telefone ou Sistema de Informações do BC (Sisbacen).
Um grande banco de varejo, por exemplo, enfrentou um problema de conexão às 16h30 com a Rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN), montada pelas operadoras de telecomunicações AT&T Latin America e pelo consórcio Embratel/RTM, da Andima, exclusivamente para permitir a troca de mensagens referentes a operações financeiras entre BC, bancos e clearings. O BC determinou que cada instituição contratasse um link de cada operadora por uma questão de segurança: no caso de um falhar, é possível contar com o outro. Segundo uma fonte desse banco, o “link” com a outra operadora não foi ativado automaticamente, conforme o previsto. O “acidente” fez com que a instituição operasse em regime de contingência até as 18h30. A fonte relatou, no entanto, que nenhuma mensagem foi perdida, o que significa que nenhuma operação deixou de ser liquidada em tempo real. “Durante esse intervalo, nos comunicamos o tempo inteiro por telefone com o BC, que transmitia a posição do banco e o número de mensagens que estavam pendentes.”
O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, revelou que quatro instituições financeiras apresentaram problemas na transmissão e recebimento de mensagens e entraram em regime de contingência, sendo que duas operaram em contingência total e duas em regime parcial, ou seja, tiveram problemas com um tipo específico de mensagem. Nenhuma clearing operou em contingência ontem, o que ocorreu na segunda-feira. O diretor do BC garantiu que não foram as mesmas instituições que enfrentaram problemas na segunda-feira. “Contingência que envolve uma clearing afeta todos. Com um banco, é mais simples”, disse o diretor.
A clearing de câmbio foi a que mais registrou negócios ontem. Foram US$ 237 milhões em operações com dólar comercial, 57% do total negociado no mercado interbancário (US$ 411 milhões) para liquidação em dois dias (D+2). As operações na clearing – que elimina riscos de inadimplência – são opcionais e parte do mercado financeiro continua realizando os negócios fora da clearing. “Foi isso que gerou mais problemas”, disse um profissional de câmbio. Duas instituições combinavam uma operação de compra ou venda de moeda norte-americana. Quando iam registrar a transação descobriam que uma delas operava na clearing e a outra não. Era preciso refazer o negócio.
Figueiredo admitiu que foi bastante fraca a movimentação de títulos públicos nos dois primeiros dias de operação do novo SPB, mas rejeitou a hipótese de que tal tendência se deva a problemas com o Selic. Segundo o diretor, é natural uma retração das operações. Ele prevê que elas retomarão o ritmo normal de negociação assim que o mercado perder receios e adquirir confiança no SPB. Figueiredo ainda negou a existência de problemas de operação de grandes bancos dentro do novo sistema. “Não estamos vendo problemas em bancos grandes. Se há problemas internos, não sei”, disse.
Os executivos dos bancos entrevistados garantiram que o segundo dia de funcionamento do SPB foi relativamente calmo. Animado, o diretor-executivo do Citibank, Pedro Luiz Guerra, acredita que o início do SPB foi “um sucesso”, considerando sua complexidade e abrangência.
O diretor de tesouraria do Unibanco, Reinaldo Rios, contou que não enfrentou problemas no primeiro dia, embora a instituição seja contraparte de bancos que tiveram, especialmente por causa da lentidão no Selic e de algumas paradas na Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip). Ele conta que o mercado interbancário teve uma movimentação 40% abaixo de um dia normal, e que 120 TEDs foram recebidas e 120 foram enviadas, 40 a mais do que o banco contabilizou na segunda-feira.
O diretor do Banco Safra, Ivo Lodo, também contou que as operações interbancárias ficaram 20% abaixo de um dia normal. A instituição banco contabilizou mais de 40 TEDs entre emitidas e recebidas, a maioria delas para liquidar operações de corretoras em bolsas. “O mercado está começando a entrar no ritmo do SPB”, afirma o executivo.
O diretor de finanças do Banco do Brasil, Aldo Luiz Mendes, informou às 18h que o número de TEDs aumentou de segunda-feira para ontem de 400, responsáveis por um volume financeiro de R$ 1 bilhão, para 600, que movimentaram R$ 1,5 bilhão. A grande maioria delas, afirmou ele, envolveu operações em bolsas. Como era previsto, o volume de TEDs também aumentou no Itaú ontem. Foram enviadas 250, 100 a mais do que na segunda-feira, e recebidas 271, ante 170 do primeiro dia.