O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que o que falta ao Brasil, é “em primeiro lugar, crédito e, em segundo lugar, flexibilidade”, referindo-se à vulnerabilidade externa. De acordo com ele, elevando o volume de comércio exterior será mais fácil para o Brasil administrar eventuais choques externos.
Sobre estratégias de crescimento e desenvolvimento para o Brasil, Fraga disse que é necessário haver reciprocidade de outros países. “Nós entendemos que é importante buscar um bom caminho”, disse. “Queremos apenas que nossos assuntos sejam tratados com reciprocidade e seriedade. Aguardamos esperançosos os sinais de liderança dos países mais desenvolvidos”, disse.
Papel do FMI é ajudar países que buscam seu caminho
O presidente do BC disse estar convencido de que “o papel do FMI voltou a ser o que era quando da sua fundação, nos estatutos de Bretton Woods, de ajudar países que estão procurando o seu caminho de uma forma mais suave”. Fraga afirmou que o sistema financeiro chama a atenção “uma certa ´prociclicalidade´”.
De acordo com ele, no mundo corporativo também “há sistemas de administração de risco que são totalmente ´procíclicos´”, como os mecanismos de regulação financeira. Segundo Fraga, só dois entes são anticíclicos: o FMI e os bancos centrais. Sobre o FMI, o presidente do BC, afirmou que “é razoável se contar com um ente anticíclico”.
Sobre os bancos centrais, Fraga comentou que “inclusive os que usam sistemas de metas de inflação fazem isso (atuação anticíclica) com certo grau de automaticidade”.
Fraga defendeu mais uma vez que o Brasil procure atingir a categoria de classificação de baixo risco de “investment grade”. “Estou convencido de que é impossível para um país que não é investment grade fazer um política anticíclica”, disse.
Direito de veto de reformas
Fraga voltou a falar em “captura do Estado” quando se referia a políticas microeconômicas e economia política ligadas às áreas de tecnologia, educação e política industrial entre outras. “É como se no nosso parlamento houvesse um certo direito de veto ou bloqueio às reformas”, disse. De acordo com ele, são reformas que têm grande impacto social. Ele citou os livros O atroz encanto de ser argentino e México: a cinza e a semente, onde também aparecem a palavra bloqueio e que, segundo ele, tratam dos mesmos temas, mostrando que o problema não é só brasileiro.
Segundo Fraga, o bloqueio de alguns grupos no parlamento às reformas “tem a ver com apropriação de rendas”. Segundo Fraga, esse é um processo que temos de superar. “Vejo isso com uma visão otimista mas com certa preocupação”. De acordo com o presidente do BC, o sucesso que o Brasil teve com seu modelo de industrialização que permitiu grandes taxas de crescimento econômico ao País gerou estruturas que fincaram raízes. Agora, essas estruturas criam algumas dificuldades “até para mudar o modelo mental” quando o País precisa pensar “em um novo modelo com base em educação e tecnologia”.
Fraga disse ainda que o grande desafio para o próximo governo “é amarrar as coisas na macroeconomia, do forma a tirar o assunto das primeiras páginas dos jornais e desenvolver uma estratégia de desenvolvimento, com D maiúsculo, que se preocupe com distribuição e sem cair nas armadilhas que uma estratégia de industrialização bem sucedida nos deixou”, afirmou.
Adriana Chiarini