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FHC recua e gasolina sobe

Três dias depois de desautorizar um reajuste no preço dos combustíveis, o presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu a queda de braço com os auxiliares. O ministro das Minas e Energia, José Jorge, e o presidente da Petrobras, Francisco Gros, afirmaram ontem que os derivados de petróleo vão subir. A alta depende da definição do percentual e a data em que os novos valores entram em vigor. Técnicos do governo admitem manter o reajuste anunciado pela Petrobras, de 2,2% para o preço do litro da gasolina.

Em Buenos Aires, onde participou da reunião dos presidentes do Mercosul, Fernando Henrique mostrou-se conformado. “Só peço que me dêem explicações por quê o preço subiu ou caiu”, disse, ao contar que havia tomado conhecimento dos motivos da Petrobras para o reajuste.

José Jorge reconheceu ter errado ao não informar o presidente da decisão. “Foi um curto-circuito”, desculpou-se ontem. “Houve um acidente, uma falha de comunicação”, confirmou Gros, ressalvando que a empresa não tem obrigação de avisar o presidente sobre reajuste de preços. O ministro contou que se reuniu com o presidente da estatal às vésperas do carnaval para tratar do aumento. A decisão foi comunicada ao ministro da Casa Civil, Pedro Parente. Nenhum dos três avisou Fernando Henrique.

Segundo José Jorge, os preços vão seguir o mercado internacional e a cotação do dólar. Segundo ele, na reunião na sede da Petrobras, no Rio, foram apresentados números que atestavam a necessidade do reajuste. “O preço do combustível hoje não é mais controlado”, disse. A Petrobras, que havia reduzido em 25% o preço da gasolina na refinaria, decidiu o aumento de 2,2% para se alinhar ao mercado internacional. “Cabe à Petrobras definir os preços da gasolina na refinaria”, resumiu Gros.

Surpreendido na última sexta-feira, Fernando Henrique, por meio de assessores, desautorizou o aumento. O constrangimento do presidente se explica. Em dezembro, ele foi à televisão anunciar uma queda de 20% no preço do litro da gasolina a partir de janeiro, fruto da liberação do mercado de combustíveis. O resultado não foi o previsto. Produtores, distribuidores e donos de postos não abriram mão de lucros.

A abertura às importações foi prevista na lei 9.478, de 1997, que tirou da Petrobras o monopólio sobre a exploração e produção de petróleo. Com a mudança, estatal e União acertaram contas de uma dívida acumulada graças ao tabelamento dos preços nas refinarias. Até 2001, quando o barril do petróleo subia lá fora, a Petrobras cobria a diferença, evitando oscilações de preços. A empresa refina uma mistura de petróleo nacional com importado.

O diretor de Abastecimento da companhia, Rogério Manso, explicou que, quando a empresa decidiu reduzir o preço da gasolina em 25% nas refinarias, em janeiro, o litro de petróleo no Golfo do México variava entre R$ 0,27 e R$ 0,31. Este mês, o barril subiu, o câmbio também, elevando a faixa de preços do combustível para R$ 0,31 a R$ 0,35. A Petrobras estimou o aumento em 4,70%. Optou por um percentual menor. “Temos que avaliar o mercado e a relação com os clientes”, disse Gros.

Isabel Clemente e Roberto Cordeiro

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