Não porque o roteiro seja forte ou a história, comovente. Mas porque, mesmo com algumas falhas, o filme levou a sério esse negócio de criar atores “humanos” por computador e encaixá-los em 133 minutos de cinema. E, cá entre nós, um cinema-entretenimento maduro perto de muitos filmes de aventura de Hollywood.
“Final Fantasy” leva o espectador para o ano de 2065. A queda de um meteoro infestou a Terra com aliens que sugam o espírito dos humanos. Uma cena fantástica, no início do filme, mostra a clássica Madson Square Garden, de Nova York, em ruínas “os ETs forçaram os humanos a viverem em colônias fechadas.
A heroína da história é a doutora Aki Ross (dublada por Ming-Na), uma das sobreviventes do hecatombe, que terá como missão salvar o planeta. Antes, no entanto, ela terá de salvar a si mesma: em um contato com os aliens, ela foi contaminada e morre aos poucos.
Aki e seu mentor, doutor Sid (Donald Sutherland), acreditam em uma espécie de “espírito coletivo” do planeta, que fortalece os aliens. O objetivo dos dois é encontrar oito formas de vida terráqueas que tenham sobrevivido ao meteoro e permitam mapear a frequência vibratória dos ETs. Com isso, seria possível expulsá-los da Terra.
Posso até dar uma de crítico chato e falar mal da sincronização das falas com os lábios dos personagens. Ou dizer que os atores de carne e osso não correm o risco de perderem seus vultosos cachês com a nova investida da Square Produtions. O filme realmente não é perfeito.
Mas acho que seria injusto com os 200 técnicos de computador que criaram e colocaram na cabeça de Aki Ross seus 64 mil fios de cabelo e, depois, deram-nos movimento individualmente, para dar realismo às cenas em que a bela moça deixa seus cabelos ao vento.
Quase quatro anos foram gastos na pesquisa e na criação do filme, que foi realizado na ilha de Honolulu, no Pacífico. O estúdio digital reuniu profissionais de 22 países, incluindo técnicos de animação que já tinham participado de “Godzilla”, “Titanic” e “Toy Story”.
Chriss Lee, produtor de “Final Fantasy”, conta que o primeiro passo foi criar os diálogos e gravá-los em Los Angeles. Feito isso, a história foi encenada por um processo chamado “motion capture” (captura de movimentos).
Vários integrantes da equipe, vestidos com uma malha preta coberta de sensores, simularam no estúdio o movimento dos personagens. Dezesseis câmeras especiais, com dispositivos infravermelhos, captavam então a luz refletida nos sensores e passavam para o computador os movimentos.
A partir daí, foi montar as cenas em sequência, retocar a pele dos personagens e fazer da “atriz” Aki Ross um símbolo sexual. Ela conseguiu até um lugar na capa da revista masculina “Maxim”, entre as cem “pessoas” mais bonitas do mundo.
Cinema videogame
“Final Fantasy” é mais um filme que chega à telona a partir de uma série de jogos de mesmo nome “a mais vendida em toda a história, por sinal. São dez jogos, que vêm das profundezas dos anos 80, dos antigos videogames, até o supermoderno console Playstation 2, da Sony.
Cada versão do game não tem nada a ver com a outra; a série não é linear. O filme também é assim, e não guarda semelhança alguma com os games da série, a não ser a ficção, a aventura e o suspense.
E, se o leitor me permite voltar ao assunto “símbolo sexual”, nada mais instigante do que esperar mais de uma hora e meia pela cena do beijo entre Aki e o capitão Gray Edwards (dublado por Alec Baldwin).
Realmente, a produção do filme tentou deixar a cena bonitinha. Mas ainda falta mais elasticidade naquelas bochechas, sem falar num batonzinho para deixar os lábios da heroína mais sensuais.
Mas fique tranquila, Aki: fora os lábios, seu filme não ficou devendo nada ao da atriz Angelina Jolie.