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Fraudes abalam imagem de auditorias

O ano era 1995. Balanço do Banco Nacional avalizado pela então maior firma de auditoria do mundo, a KPMG, indicava um lucro de R$ 101 milhões nos nove primeiros meses do ano. Diante de quadro tão favorável, endossado por uma das melhores grifes internacionais do ramo, nenhum cliente imaginaria que, em dois meses, poderia ter perdido tudo, não fosse a intervenção do Banco Central e a injeção de dinheiro público para cobrir o rombo que chegou a US$ 9,2 bilhões.

Mais de seis anos depois, o processo que apurou responsabilidades na quebra do Nacional resultou na condenação, em primeira instância, da maioria dos denunciados pelo Ministério Público, inclusive na do sócio da KPMG no Brasil, Marco Aurélio Diniz Maciel, o encarregado de checar os balanços do banco da família Magalhães Pinto.

Falta proteção – Na época, a auditoria insistiu que a situação do Nacional era sólida. A investigação policial, porém, encontrou 652 contas com créditos fictícios usadas para manter a aparência saudável do banco. “No país, a cultura da auditoria surgiu como uma proteção da empresa contra o ataque do gerente, de gente de fora. No Nacional, o problema vinha da cúpula”, diz o procurador da República Rogério Nascimento, um dos que acompanham o caso.

Antes de entrar com a denúncia na Justiça, recorda o procurador, o ponto mais difícil da investigação era a participação da KPMG. “Não podemos ficar vulneráveis, como sociedade e investidores, diante de casos assim. Os auditores têm que olhar por nós”, disse.

Sentença – “Estou mais do que convencido de que nossa decisão foi correta”, comentou Nascimento, antes de saber da sentença, que prevê pena de dez anos e oito meses para o auditor, dada pelo juiz federal Marco André Bizzo Moliari, da 1ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, na sexta-feira. Maciel está entre os seis réus condenados que poderão recorrer em liberdade. O JB não localizou, ontem, o advogado de Maciel nem obteve resposta da casa do auditor.

A KPMG não é a única a ter sua imagem na berlinda. Outra gigante internacional de auditoria, a Ernst&Young, tem envolvimento com duas outras falências bancárias no Brasil: a do Econômico e a do Bamerindus. Resultados contábeis do Econômico de 1995 mostravam o melhor dos mundos, mas no mesmo ano o banco quebrou. Os casos Nacional e Econômico levaram o então presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, a sugerir, em depoimento ao Congresso, que as auditorias fossem responsabilizadas pelos balanços maquiados. A Ernst alegou ter seguido todas as regras.

Suspeita – Naquele mesmo ano, 1995, quando agentes do mercado financeiro já desconfiavam da estabilidade financeira do Bamerindus, o banco paranaense usava balanços assinados pela Ernst&Young para provar que sua situação era confortável. O banco quebrou no início de 1997, e o balanço de 1996 com prejuízo estampado e assinado pela auditoria saiu um dia depois do BC intervir.

O caso mais em evidência hoje é o da Arthur Andersen, ré no processo que investiga a falência da gigante de energia Enron, nos Estados Unidos. A Andersen destruiu documentos e, de acordo com as denúncias, sabia da maquiagem que escondeu prejuízos seguidos nos balanços da empresa. No Brasil, a firma começa a enfrentar problemas no Sul, onde um advogado denunciou um auditor da Andersen de participar de uma fraude nos balanços do Grupo Cecrisa (cerâmica).

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