ACE-Guarulhos

Harry Potter e a Pedra Filosofal, estréia hoje!

Todo pai, crítico ou professor tem a maior admiração pelo trabalho de J.K. Rowling, que conseguiu o impossível: fazer com que os jovens voltassem a ler. Mais admirável ainda: justamente naquela faixa tão difícil de atingir, os que estão na pré-adolescência, quando geralmente são viciados apenas em videogames e abominam qualquer possibilidade de leitura. No entanto, os livros da autora inglesa (que está ficando merecidamente milionária) são um fenômeno editorial de enorme proporções. E sem fazer concessões: os quatro livros até agora editados são longos (faltam mais três para completar a Saga e o quarto, “Harry Potter e o Cálice Sagrado”, tem na sua edição nacional 584 páginas) e bastante complexos – como se pode ver no filme, mexem com mitologia grega, com centauros e unicórnios). Ou seja, são excelentes para despertar a imaginação e a fantasia dos jovens, dá lições corretas sobre amizade, autoconfiança, bem e mal etc. Tudo de forma divertida e inteligente. Interessando aos jovens (que são absolutamente fanáticos por eles) e também adultos.

Eu li apenas os dois primeiros livros e tive uma boa impressão. O suficiente para concluir, depois de ver o filme, que o livro é melhor. É uma pena cair no velho clichê, mas no cinema Harry Potter ganhou um versão apenas “básica”. Ou seja, é bastante divertido, bastante fiel, bastante bem feito. Mas apenas isso. Bastante. Sem nada a mais. Realizado por um cineasta de grande mediocridade, Chris Columbus (“Uma Babá Quase Perfeita”, “Esqueceram de Mim”, mas este na verdade foi escrito e produzido por John Hughes, que controlou o projeto), não há na fita um momento de criatividade, nenhum achado, nenhuma novidade especialmente interessante. Não desagrada nenhum fã do livro, mas tampouco é uma grande obra de cinema. É muito sintomático que Steven Spielberg tenha sido afastado do projeto. Mesmo ele, já fora de forma, seria pessoal e poderoso demais para conduzir um projeto que obviamente fez tudo servir, de forma mesmo irritante, ao controle da autora sobre sua obra.

Mas obviamente é impossível transpor tudo que está num livro para um filme, mesmo ele sendo longo (com duas horas e meia, a fita acaba sendo interminável para muita gente, embora na sessão que assisti as crianças não deram sinais de se incomodar. Mas certamente os menores terão problemas para manter a atenção durante tanto tempo). O fato óbvio é que “Harry Potter” já estava destinado a ser um mega sucesso (chega aqui quase simultaneamente, com 450 cópias, muitas dubladas) e os recordes de bilheteria nos Estados Unidos eram mais do que esperados. A Warner resolveu não correr riscos. Optou pela mediocridade para garantir a continuidade (se a autora fica contente, isso garante os próximos filmes para o estúdio, sendo que o segundo já começa a ser rodado nos próximos dias na Inglaterra para evitar também que seu elenco fique velho demais!).

Entendam bem: o filme não é ruim. Ao contrário, é uma diversão agradável, perfeitamente adequada, mas raramente mais do que isso. Columbus acertou no mais difícil, que era a escolha do elenco. O menino Daniel Radcliffe é bonitinho, discreto, eficiente, uma perfeita solução para o personagem (é sempre um problema com livros famosos, porque a gente tem a tendência de imaginar o personagem e dificilmente ele se corporifica na tela). Assim como seus dois parceiros, Rony e Hermione. O resto do elenco é feito por alguns dos mais ilustres atores do teatro e cinema britânicos, portanto inatacáveis (a não ser por aparecerem pouco). Os problemas são menores. Fiquei pensando se não haverá crianças que irão quebrar a testa na estação de trem inglesa de King´s Cross, tentando encontrar a plataforma 9 e ¾! Minhas reclamações maiores advêm da tradução do livro, chamando os “não bruxos” de “trouxas”, por exemplo (as legendas seguem escrupulosamente a tradução) e de omissões (como a participação pequena dos tios, da coruja etc).

Isso quer dizer então que seria melhor um filme ainda mais longo? É justamente esse o problema. O filme conta a história direitinho, sintetizando muita coisa (por exemplo, reduzindo a apenas um o jogo de quadribol), mas contando todo o essencial (com a ajuda de efeitos especiais corretos, mas nenhum deles é novo ou especialmente original). Mas tudo é muito esquemático, um pouco frio (a fita não tem grande emoção), sem surpresas. Fica-se com a impressão de que tudo foi submetido e questionado pela autora, que obrigou os realizadores a fazerem apenas uma visualização reduzida do livro (quase como se fosse na antiga Seleção do Reader´s Digest), um longo trailer (que desse vontade nos espectadores de saberem mais sobre a historia lendo o livro, se é que ainda existe alguém dessa faixa de idade que não tenha passado por isso). De qualquer forma, o sucesso não é injusto ou absurdo. Quem dera o cinema tivesse outros Harry Potters à disposição (mas se espera ainda mais do tão aguardado “O Senhor dos Anéis”, que tem uma trama mais densa e é um livro de leitura mais difícil, cujo trailer está passando junto com “Harry Potter”).

Corra para o cinema mais perto de você e não perca mais essa fantástica estréia!
Sair da versão mobile