Indústria brasileira perde espaço com a estagnação
No segundo semestre de 2001, quando a crise atingiu o Brasil, a expectativa de paradeira era de um ano. A estagnação acaba de completar seu primeiro aniversário e não existem sinais de recuperação. A indústria projeta agora uma retomada somente em meados do próximo ano, o que daria tempo para o novo governo assumir e anunciar qual será sua política para o setor.
Com isso, a indústria aperta os cintos. No ano passado, as operadoras brasileiras investiram R$ 18 bilhões. Esperava-se para este ano uma queda de 50% no faturamento dos fornecedores. “Já revi minhas projeções. O mercado deve movimentar de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões este ano”, diz o consultor-chefe de telecomunicações da Brisa, Virgílio Freire.
A crise prolongada fez a produção local encolher. A Alcatel desativou sua fábrica de centrais telefônicas da Via Anchieta, em São Paulo. A empresa chegou a ter uma capacidade anual de produção de centrais para 2,1 milhões de linhas. A área ocupada pela fábrica foi remanejada para integração e treinamento e para a criação de um centro de competência.
“Não se trata de uma crise passageira, mas de uma mudança no mercado”, afirma José Vazquez, diretor de marketing e vendas da Alcatel. A empresa tem um projeto aprovado para fabricação de estações para celulares e deve partir para a terceirização, caso haja demanda. No pico do investimento, a companhia chegou a empregar 1,5 mil funcionários no País. Hoje são 950. “Muitos foram terceirizados.”
Para a Lucent do Brasil, o mercado externo é mais importante, no momento, que o interno. “As fábricas estão em ritmo lento para o mercado interno”, afirma Renato Furtado, presidente da empresa.
O mesmo acontece com a Nokia, que exportou US$ 130 milhões no primeiro trimestre, comparados com US$ 143 milhões em todo o ano passado. “Exportamos metade do que produzimos e 90% das exportações vão para os Estados Unidos”, conta Fernando Terni, presidente da companhia.
A fábrica da Siemens de Curitiba chegou a produzir centrais para 5 milhões de linhas por ano. “Neste ano, se for muito bom, chegaremos a um milhão”, afirma Aluízio Byrro, vice-presidente da companhia.
A Trópico, fabricante brasileira de centrais telefônicas, chegou a ter 500 funcionários e hoje tem 200. “Na retomada, devemos partir para a terceirização”, diz o diretor comercial Rogério Rizzi.
Os planos de terceirização, porém, ainda não estão se convertendo em negócios para as terceirizadas. O presidente da Solectron, Ricardo Bloj, reconhece aumento nas consultas da área de telecomunicações, mas os pedidos ainda não começaram a entrar.
Renato Cruz