Indústria e comércio têm maior nível de estoques desde 97
A indústria e o comércio acumulam hoje o maior nível de estoques desde janeiro de 1997. Com essa sobra de produtos acima do previsto, fruto das vendas fracas do segundo trimestre, boa parte das empresas reduziu as compras programadas até setembro. A perspectiva é de que, descontados os efeitos sazonais, o ritmo de atividade neste trimestre seja menor do que o registrado entre abril e junho deste ano. Essas são as principais conclusões da 23.ª Pesquisa Conjuntural Bicbanco, que consultou 110 companhias, a maioria delas indústrias, com vendas médias de R$ 147,8 milhões por ano.
A pesquisa mostra que 48,2% das companhias faturaram abaixo do previsto no segundo trimestre e que 45,6% acumulam estoques indesejados. O índice de acúmulo de estoques que, quanto mais próximo de 100 indica um volume maior de produtos encalhados, fechou o mês passado em 69,1 pontos, o maior indicador trimestral desde o início da coleta dos dados, em janeiro de 1997.
“Os estoques estão elevados em todos os setores”, diz o economista-chefe do Bicbanco, Luiz Rabi. Ele observa que 48,9% das empresas cortaram a programação de compras para os próximos meses. É que as companhias não vão lançar novos pedidos de compra antes de desovar as sobras de produtos. Na avaliação de Rabi, mesmo com a redução dos juros básicos de 0,5 ponto porcentual, pelo Copom, a atividade não deverá reagir de imediato. O impacto virá a partir do último trimestre.
A Dixie-Toga, por exemplo, maior fabricante de embalagens, produtos que são um termômetro do ritmo de atividade informa que detectou entre clientes e fornecedores esforço para reduzir de 25 para 15 dias os volumes de estoques de produtos e matérias-primas nos dois últimos meses. Com juros elevados, as empresas estão evitando carregar estoques indesejados, o que reduz o seu capital de giro, observa o presidente-executivo da companhia, Walter Schalka.
“Está havendo uma redução desastrosa de encomendas em todos os setores”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Merhege Cachum. Ele observa que, diante das vendas fracas, as empresas enxugaram as compras e os estoques para obter capital de giro.
Para este trimestre, 47,4% das empresas cortaram as projeções de crescimento de vendas. Com base nessa reavaliação, foi reduzida a taxa de crescimento do faturamento médio real dessas empresas para este ano, que era de 3,9% na pesquisa anterior, para 1,3%. A expansão no número de funcionários, que antes estava projetada em 2,2% agora é 0,9%.
O único resultado da pesquisa que surpreende positivamente é a taxa de crescimento das exportações. O índice de aumento das vendas externas das empresas que exportam está hoje em 4,8%, um ponto porcentual acima do projetado no levantamento anterior. “Com isso, revisamos a estimativa de saldo da balança comercial para o ano de US$ 4,5 bilhões para US$ 4,7 bilhões”, diz Rabi.
Márcia De Chiara