ACE-Guarulhos

Indústria superou as crises

No ano em que não faltaram crises ” Argentina, atentados terroristas e racionamento ” a indústria brasileira conseguiu superar as expectativas. Os dados de 2001 divulgados ontem pelo IBGE mostraram que houve expansão de 1,5% da produção nacional e que, depois de nove meses seguidos de retração, os indicadores confirmam a retomada do crescimento. Em 2000, a indústria, sem adversidades, crescera 6,6% e a maior parte dos analistas prevê que este ano a expansão será de 2%.

Ironicamente, uma das piores crises por que passou o país ” o racionamento ” ajudou no resultado. Um dos segmentos que puxaram a indústria em 2001 foi o de bens de capital para o setor elétrico, refletindo os investimentos feitos para reduzir os efeitos da escassez de energia.

As indústrias de bens de capital apresentaram crescimento de 12,8% em 2001, com expansão de todos os sete subsetores. Os equipamentos de energia, como geradores, tiveram alta de 42,5%, e os materiais de construção para infra-estrutura (termelétricas, por exemplo) registraram aumento de 23,7%.

Em dezembro, a indústria cresceu 1% sobre novembro, e a retração foi de 6,1%, contra o mesmo mês do ano anterior. Mas dezembro de 2000 registrara o maior patamar de produção da Pesquisa Industrial Mensal, o que distorce a leitura dos números: a indústria foi castigada pela conjuntura, mas já recuperou a confiança e está voltando a investir.

” Tivemos um ano muito difícil e, desse ponto de vista, o crescimento foi expressivo. Além disso, dezembro foi o primeiro mês a interromper o processo de declínio da produção desde março ” diz Mariana Rebouças, economista do Departamento de Indústria do IBGE.

Mariana afirma que três segmentos puxaram a indústria em 2001: bens de capital para o setor elétrico, insumos energéticos e alimentos para exportação.

O racionamento afetou negativamente o desempenho do grupo das indústrias que consomem muita eletricidade (-2,9%) e que a alta do dólar e dos juros limitou o poder de compra, impactando a indústria de bens de consumo durável e semi-durável. Por isso, as maiores contribuições à desaceleração vieram das indústrias têxtil (-5,7%), de vestuário e calçados (-6,5%) e siderúrgica (-2,8%). Móveis (- 1,1%) e eletrodomésticos (-9,1%) também travaram a produção nacional.

Já o setor de bens semi e não-duráveis perdeu com vestuário mas ganhou com a exportação de aves abatidas, açúcar e café e registrou o primeiro crescimento em três anos: 1,9%. A produção 3% maior de gasolina e álcool também colaborou.

Apesar do bom desempenho dos insumos energéticos, como petróleo e gás (4,3%) e óleos diesel e lubrificantes (5,4%), os bens intermediários, que representam 65% da indústria geral, tiveram retração de 0,3%.

Os bens duráveis, entretanto, estão na ponta da atual recuperação da indústria. A maior confiança dos empresários e dos consumidores permitiu produção 6,1% maior em dezembro em relação ao mês anterior. De acordo com Octavio de Barros, do BBV Banco, a indústria surpreendeu em 2001, pois acreditava-se que a produção cairia em relação a 2000, derrubando inclusive o Produto Interno Bruto (PIB). Para Barros não há dúvidas de que a indústria já está se recuperando. Porém, Barros e Fernanda Senna, da BBA Corretora, destacam que a expansão este ano será pequena ” 2%, prevêem ” por causa das perspectivas modestas para o mercado de trabalho e os salários.

As vendas de veículos caíram no mês passado. Das montadoras para as concessionárias, a queda de veículos nacionais e importados foi de 9,8% em relação a igual mês de 2001. No varejo (das concessionárias para o consumidor), a redução foi de 8,9% na mesma comparação e o total foi de 113.500 unidades No mês passado as indústrias aumentaram sua produção em 3,5% em relação a janeiro de 2001 e venderam para as concessionárias 110.174 unidades.

Sair da versão mobile