Investidor pode abater perda em fundos
O advogado Bris Belga Cathalá Neto levou um susto, no fim de junho, ao verificar o saldo de seu fundo DI, modalidade de aplicação considerada a mais conservadora do mercado. Com a mudança na contabilização dos títulos da carteira de fundos de investimento, adotada pelo Banco Central desde 31 de maio, Cathalá perdeu 10% do total aplicado. Depois das perdas, o advogado sacou todos os recursos. O que ele não sabia é que é possível, para efeitos de Imposto de Renda, abater as perdas passadas em ganhos futuros nessa aplicação ou em outros fundos, pagando, assim, menos IR.
Para isso, basta que os fundos sejam administrados pela mesma instituição financeira. Mas o benefício, além de ser opcional, não é muito divulgado e só é feito por poucas administradoras.
– Não fui sequer orientado sobre essa possibilidade. Por que quem perdeu dinheiro em outras instituições pode fazer o abatimento e eu não? Vou cobrar uma posição do meu administrador – diz Cathalá.
Alexandre Pinelli, diretor de Produtos da Investa, empresa que distribui fundos de diferentes gestores, explica como é feito o abatimento de IR:
– Um investidor que perdeu R$ 200 num mês tem esse valor registrado como prejuízo a compensar. Se, no mês seguinte, ele tem rentabilidade de R$ 100, não pagará imposto sobre o ganho. Mas, nesse caso, passa a ter apenas um saldo de R$ 100 a compensar. Se no outro mês o lucro é de R$ 300, ele pagará IR apenas sobre R$ 200, que é a diferença entre o rendimento e o saldo a compensar.
A compensação pode ser feita tanto nos ganhos obtidos no fundo que registrou prejuízo como na rentabilidade de outras aplicações administradas pela mesma instituição. E, mesmo depois de ter resgatado os recursos, como o advogado Cathalá, o investidor ainda pode usufruir do benefício. Márcio Rômulo Pereira, gerente de controladoria do Opportunity, um dos primeiros bancos a oferecer a facilidade, explica que a compensação continua valendo:
– O saque integral não invalida o abatimento. As perdas podem ser compensadas até o fim do ano-calendário seguinte. Quem sacou os recursos em junho tem até 31 de dezembro de 2003, bastando, neste prazo, voltar a aplicar em fundos da mesma administradora.
Francisco Corrêa da Costa, sócio da gestora GAP Asset Management, ressalta que, no caso das perdas em fundos de renda variável, a compensação só ocorre após o resgate, quando ocorre a cobrança de IR. Se o dinheiro permanecer aplicado e o cotista auferir lucros, ele perde o direito a compensar as perdas anteriores.
A vantagem é maior para quem investe por meio de distribuidoras de fundos como Investa ou MaxBlue. Essas empresas compram cotas de fundos de gestores diferentes para então formar seus próprios produtos, todos sob o mesmo administrador.
– É possível compensar as perdas do fundo de um banco dos ganhos no aplicação de outra instituição – diz Marcello Paixão, diretor de Produtos do MaxBlue.
Como ainda são poucos os bancos e administradoras que oferecem o benefício, cabe ao investidor pedir à instituição o direito de compensar as perdas nos fundos. A Mellon Brascan, por exemplo, colocará o benefício a disposição de seus clientes no dia 31 de julho.
– É uma vantagem competitiva e mostra respeito pelo cotista – diz o diretor-presidente da instituição, José Carlos de Oliveira.
Patricia Eloy