Jorge Amado é velado no antigo palácio do governo
O corpo do escritor baiano Jorge Amado está sendo velado desde a noite de segunda-feira no Palácio da Aclamação (rua Sete de Setembro, 1.330, Campo Grande, Salvador), antiga residência do governo do Estado da Bahia, e será cremado às 17h desta terça-feira no cemitério Jardim da Saudade. Ele morreu aos 88 anos, às 19h30 de segunda-feira, dia 6, em Salvador.
Um dos maiores escritores contemporâneos brasileiros, Jorge Amado passou mal no início da noite e foi levado para o Hospital Aliança, onde sofreu uma parada cardiorrespitarória. Ele completaria 89 anos na próxima sexta, dia 10.
O velório de Jorge Amado em Salvador só será aberto para o público a partir das 8h30 desta terça-feira.
Baiano de Itabuna, ele era membro da Academia Brasileira de Letras havia 40 anos. Jorge Amado deixa a mulher, a também escritora Zélia Gattai, 85, e os filhos João Jorge, 54, e Paloma, 50 – que trabalhava na organização dos acervos da obra de seu pai.
O escritor morreu de insuficiência cardíaca. “Ele estava fazendo sua fisioterapia, seguindo as recomendações médicas normais, quando passou mal”, afirmou o médico de Amado há mais de 15 anos, o cardiologista Jadelson Barbosa.
Às 19h, Jorge Amado chegou ao pronto-socorro do Hospital Aliança, onde teve uma parada cardiorrespiratória.
“Ele não respondeu às manobras de reanimação”, afirmou Andrade. O escritor foi dado como morto às 19h30. Segundo o boletim médico, assinado por Andrade, Amado apresentava um quadro de insuficiência circulatória aguda ao dar entrada no hospital.
O escritor, autor de megassucessos como “Gabriela, Cravo e Canela” e “Capitães de Areia”, era cardíaco e diabético. A crise que o vitimou foi a segunda em menos de um mês. Entre 20 de junho e 16 de julho, Amado teve sua pior crise, decorrente de um aumento na taxa de açúcar no sangue.
Desde que teve um infarto, em 1993, sua saúde declinou e interrompeu progressivamente seu trabalho. Suas obras mais recentes são “A Descoberta da América pelos Turcos” (1994) e o livro-conto “O Milagre dos Pássaros” (97).
Os números associados à sua produção literária são superlativos. Publicado em 46 países e 36 idiomas, Amado vendeu mais de 20 milhões de exemplares de suas obras.
Recentemente, pouco saía de casa. Sua diversão principal era conversar e jogar baralho com a mulher, Zélia, com quem era casado desde 1945.
Saúde debilitada
Amado vinha apresentando uma série de problemas de saúde nos últimos anos, agravados por um histórico de fumo e obesidade durante a vida toda. Em 1993, sofreu um infarto. Três anos depois, sofreu um edema agudo no pulmão -um acúmulo anormal de líquidos no órgão, decorrente de insuficiência cardíaca.
Pouco tempo depois, ainda em 96, sofreu uma crise de angina e teve de passar por uma angioplastia para desobstruir uma artéria. Em 97, colocou um marcapasso. De lá para cá, foi internado algumas vezes -sendo o período mais longo e complicado até o atual em 99, quando ficou 15 dias no hospital Aliança.
Repercussão
O presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras), Tarcísio Padilha, disse todos os imortais estão de luto em razão da morte do escritor.
O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, lamentou a morte por meio de uma nota oficial. “O Brasil perdeu hoje um de seus maiores intérpretes”. “O legado de Jorge Amado transcende uma obra que, por sua riqueza e densidade, é o exemplo vivo do que pode o espírito humano em suas mais elevadas criações”, diz a nota.
O presidente também lembrou que os personagens de Jorge Amado se tornaram muito populares em todo o país. “Que maior glória pode ter um escritor? A língua de Jorge Amado é um português que seduz todos os cinco sentidos, cheio de cores, sons, perfumes, sabores e texturas”, afirma na nota.
Fernando Henrique Cardoso disse ainda que Jorge Amado deixa uma lição “de um combatente, de alguém que sempre esteve a favor da justiça, do lado dos oprimidos; um criador que teve a coragem de pintar o Brasil em suas cores reais para, a partir delas, propor a sua utopia”.
O presidente destacou ainda que o legado deixado por Jorge Amado ao Brasil “é a herança que nos orgulhamos todos”. Fernando Henrique conclui a nota com a seguinte afirmação: “Jorge, sentiremos sua falta”.