Juro alto e massa salarial em queda derrubam o crédito
O volume de crédito liberado no Brasil deve decepcionar de novo em 2002. Apesar de ser considerado muito baixo – representou menos de 30% do Produto Interno Bruto, PIB, no ano passado – esse volume tem poucas chances de crescer nesse ano. Em dezembro de 2000, o estoque era de R$ 319 bilhões e cresceu menos de 10%, para R$ 332,5 bilhões ao final de 2001. Para se ter uma idéia, nos Estados Unidos o volume beira a 100% do PIB. Juros futuros nas alturas, pressionados com as eleições; desemprego e queda da renda do trabalhador têm levado os bancos a brecarem as operações de crédito, temendo a inadimplência. Empresas e pessoas físicas também têm evitado empréstimos nesse momento, com medo de não ter como honrar a dívida no futuro.
Aumento – O resultado da desconfiança dos bancos é visível nas taxas de juros praticadas nas operações de crédito, que já começam a subir. Segundo relatório do Banco Central, as taxas de juros subiram 0,4% em maio. E alguns bancos, como a Caixa Econômica Federal, começam a anunciar reajustes nos juros para julho.
Rigor – No caso dos bancos, principalmente, o temor está vinculado às eleições. O rigor na hora de emprestar tem sido redobrado, principalmente em operações de crédito com duração de mais seis meses, quando o próximo presidente já terá assumido. Além do risco do aumento do nível de inadimplência – que saltou de 9,5% em 2000 para 13,8% em 2001- por parte dos tomadores, os bancos receiam que as taxas de juros possam subir, como apontam os juros futuros, prejudicando o retorno da operação, que terá sido realizada com taxas muito abaixo da nova realidade.
Queda – De acordo com estudo realizado pela equipe econômica do BBV Banco, a queda de 4,4% da massa real de salários no primeiro trimestre também potencializa o risco de crédito. “Os bancos estão em compasso de espera. Enquanto esta instabilidade persistir dificilmente veremos crescimento na liberação de empréstimos”, diz a consultora, especializada na área de crédito, Graziella Thomaz da Silva, da MGB Consultoria.
Eleições – Para ela, após as eleições é possível que haja uma retomada, mas que seria insuficiente para reverter o quadro de estagnação do ano. “Esperamos que o volume alcance no máximo 30% do PIB”, diz Graziella. Para agravar a situação, o governo tem confundido o mercado financeiro ao adotar medidas contraditórias à expansão do crédito. Primeiro, decidiu manter o juro básico (Selic), em 18,5% ao ano mas, em contrapartida, adotou o viés de baixa. Isso poderá fazer com que a Selic seja reduzida a qualquer momento, o que seria bom para o crédito, pois poderia gerar uma redução nos custos do tomador final.
Compulsórios – Depois o governo anunciou o aumento do depósito compulsório a prazo e de poupança dos bancos, que deve tirar cerca de US$ 12 bilhões do mercado. Para acirrar ainda mais a desconfiança o governo decidiu subir a Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP, de 9,5% para 10%, que é usada como parâmetro para operações de longo prazo. “O resultado é que ficará cada vez mais difícil para as empresas conseguirem crédito”, diz Graziella.
Adriana Gavaça