O Fundo Monetário Internacional, FMI, prevê que a economia argentina reduza até 15% em 2002. Ninguém sabe ao certo se o porcentual vai se confirmar. Nem que rumos a política econômica vai tomar naquele país. O certo é que hoje começa mais um feriado bancário, e por tempo indeterminado. De dentro da crise, restam poucas certezas: a Argentina escolarizada está cada dia mais pobre; a governabilidade do presidente Eduardo Duhalde é frágil; sem crédito, o país não consegue retomar o crescimento; a classe média já não come carne de primeira como antes; e, por fim, a situação pode ficar ainda pior.
Pobreza – “Os níveis de pobreza já chegam a 49,9% da população e não demoram a crescer ainda mais, sobretudo com uma inflação projetada de 57% ao ano na Argentina”, diz o analista político argentino Artemiro Lopes. No auge da hiperinflação, no início da década de 90, 59% da população argentina estava pobre. Em outubro de 2001, antes do agravamento da atual crise, o índice de pobreza era de 44,2% da população. Segundo Lopes, a taxa de desemprego já é de 23,8%, com 18% dos argentinos vivendo às custas de subempregos. “Entre os jovens de 18 a 24 anos a situação é ainda mais complicada, com 45% dos cidadãos desocupados nessa faixa”, diz. “Existe uma nova faixa de pobres. São pessoas de classe média baixa que estão pobres. A saída é reduzir o consumo de carne, partir para a carne de segunda e o frango e cortar os gastos com vestuário e com a casa”, explica o consultor argentino Manuel Mora Yaranjo, da YPSOS. A nova pobreza gera reações fortes na população argentina, mais escolarizada que a do Brasil. “O primeiro problema da crise é político, é o fato de que não há governabilidade para seguir qualquer política econômica sem que haja conflitos”, afirma Marcel Solimeo, diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo.
Risco – Para Solimeo, a estagflação ou recessão com inflação é um dos riscos para o país. “A emissão de moeda pode fugir do controle, sem que haja de fato aumento do poder de compra”, explica. A possibilidade de queda de 15% no PIB argentino neste ano será resultado não só da recessão, mas também da atual fragilidade política. “Duhalde não foi o candidato escolhido nas últimas eleições. Perdeu a campanha para (Fernando) De la Rúa, que já caiu. Os grandes grupos estão isolados, brigando pelos seus interesses. Na Argentina, só há consenso entre a população, que empobrece e não aceita a atual política econômica”, explica a pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Ana Maria Stuart. Para a diretora do escritório da agência de classificação de risco Standard&Poors em Buenos Aires, Diana Martino, o risco país da Argentina não piora depois da previsão do FMI. Já é o mais baixo na classificação da agência: nível D, o que significa que o país não consegue pagar a dívida.
Isabela Barros