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Matt Damon perde a memória em “A Identidade Bourne”

Guarulhos, 18 de outubro de 2002

arteEsta refilmagem da história de um romance de espionagem da Guerra Fria publicado há 23 anos por Robert Ludlum convence em dois níveis: como um relato do lado implacável da CIA que soa mais realista do que meramente cínico, e como retrato da personalidade de um matador da agência que perde a memória e, quando finalmente se dá conta de quem é, não gosta do que fica sabendo.

Matt Damon é o personagem-título, uma máquina de matar altamente treinada cujo corpo, na abertura dramática da história, é resgatado do Mediterrâneo por pescadores.

Salvo da morte quase certa, o rapaz tem duas balas nas costas e uma cápsula contendo o número de uma conta bancária na Suíça. Como ele não se lembra de quem é, onde vive ou o que faz, ele aceita uma ajuda do pescador que o salvou e parte para Zurique.

O que ele encontra guardado no banco suíço o deixa totalmente perplexo: vários passaportes – um dos quais é norte-americano e o identifica como sendo Jason Bourne -, uma arma e muito dinheiro vivo.

Ele pega tudo e vai até o consulado norte-americano, onde seguranças o atacam e ele escapa por pouco, pagando 10 mil dólares a uma “cigana” alemã descabelada mas atraente, Marie (Franka Potente, de Corra, Lola, Corra) para que ela lhe dê carona até Paris.

Mas, embora Bourne não entenda por que o estão perseguindo, o público fica sabendo desde cedo. Em Langley, sede da CIA, o agente Ted Conklin (Chris Cooper), que chefia uma operação ultra-secreta, está furioso por Bourne não ter cumprido sua missão de assassinar um antigo lider africano que ameaça chantagear a agência. Agora que Bourne reapareceu, ele avisa a todos: “Quero Bourne morto até o pôr-do-sol”.

Assim, o filme vira uma perseguição implacável, uma caçada cheia de suspense, complicada pelo fato de a polícia francesa várias vezes chegar muito perto de deter Bourne. O espetáculo de um assassino da CIA sendo caçado por seus semelhantes cria uma dinâmica emocional de ambivalência quase assustadora.

Por um lado, o espectador quase automaticamente simpatiza com a figura central (especialmente quando é alguém jovem e atraente, como Matt Damon); por outro, em nenhum momento o filme nos deixa esquecer que Bourne, antes de sofrer a amnésia, era um “deles”.

Quando o agente sem memória abaixa a guarda com Marie, revelando a ela que não se recorda de nada, a alemã se anima a dar início a um romance. Mas essa parte da história se mantém digna de crédito porque não é exagerada:Marie é mantida na história, não mais do que isso, enquanto ela e Bourne decidem até onde querem levar a situação.

Outro elemento que ajuda o filme é a escolha para o papel de Marie de Franka Potente, que é sexy mas não bela da maneira convencional. Ela é calorosa, pé no chão e livre de trejeitos de atriz, além de ser despreocupada a ponto de conservar nos cabelos alguns traços da tintura ruiva que usou em Corra, Lola, Corra.

O breve epílogo ensolarado ao final desanuvia a história de uma maneira não inteiramente plausível, mas não elimina, de maneira alguma, a consistência e coerência de um filme que faz um ótimo trabalho de representar o gênero dos filmes de espionagem a uma nova geração de espectadores.