O comércio paulistano deverá fechar o mês com retração de vendas, confirmando as expectativas de empresários e economistas. Diversos fatores estão contribuindo para este cenário, entre eles os juros altos, o desemprego, a queda de renda do trabalhador, a carga de impostos – que além de elevada no início do ano tem comprometido a renda em nível superior ao da inflação – e as chuvas que têm caído quase que diariamente no período da tarde, alagando e congestionando diversas áreas da cidade. O resultado do mês será afetado ainda pelo efeito calendário. Março terá dois dias utéis a menos, em relação a igual mês de 2001, por causa dos feriados de Páscoa (no ano passado foram em abril). Os lojistas apostam numa reversão do quadro a partir de abril, com a proximidade do Dia das Mães e da Copa do Mundo.
Indicadores – As consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito, SCPC, – que mede a evolução dos negócios a crédito – da Associação Comercial de São Paulo, ACSP, até o último dia 24 tiveram retração de 3,6%. A média diária de consultas foi de 55.435, ante as 57.509 de março do ano passado. As consultas ao UseCheque – sinalizador de negócios a vista e com cheques pré-datado – cresceram até o dia 24 5,5%, em comparação a média diária de março de 2001. A média diária de consultas foi de 63.054 (59.793 em março do ano passado). Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial – entidade que faz o levantamento -, diz que o aumento dos telefonemas ao UseCheque reflete as vendas de chocolates, ovos de Páscoa e pequenos presentes para época. O economista destaca que os números não podem ser projetados para o mês em função das diferenças de calendário. “Março de 2002 termina com dois dias utéis a menos, sendo a sexta-feira e domingo – dois dias importantes de vendas – feriados”, diz. O último dia do mês cai num domingo e em 2001 foi num sábado.
Retomada – “Mas a retomada a partir de abril será lenta”, diz o diretor de Marketing das lojas Panashop/Best Mix, Roberto Brentzel. A rede, que comercializa eletroeletrônicos, deve fechar março com uma retração de vendas da ordem de 10%, em relação a igual mês do ano passado. Segundo Brentzel, a recuperação será impulsionada pelas vendas do Dia das Mães, considerado o “Natal” do primeiro semestre e também pelos negócios gerados pela Copa do Mundo de Futebol. O movimento de vendas propiciado pelo campeonato de futebol também não deverá ser muito forte, já que os jogos acontecerão de madrugada, relegando as transmissões pela televisão a um segundo plano. “Terão muita saída os videocassetes, pois o brasileiro vai gravar as partidas para assistir depois”, explica Brentzel.
Queda forte – Na rede Zelo – que revende roupas de cama, mesa e banho – a retração foi ainda maior. “Foi o pior março dos últimos dez anos”, lamenta o diretor José Razuk. A empresa viu os negócios caírem 25%, em relação a fevereiro, mês que teve poucos dias utéis e o Carnaval. Razuk põe a culpa na alta carga tributária que penaliza a classe média no primeiro trimestre de cada novo ano. “Em março, o consumidor tem de arcar com compromissos como o pagamento de IPVA, IPTU, compra de material escolar e matrículas escolares. Isso acaba tirando-o do mercado”, lamenta. As chuvas que castigam diariamente a Capital também têm desempenhado papel negativo. “Os alagamentos e os congestionamentos estão amedrontado o consumidor, que acaba por adiar as compras”, explica. O diretor da Zelo aposta numa retomada de vendas em abril. “Depois dessa queda, só podemos aguardar recuperação”, diz José Razuk. Para a proprietária da confecção Due Amici, Gisele Munhoz, o mês de março sempre costuma ser muitocomplicado para o setor de vestuário. “É um período de transição. A nova coleção começa a ser vendida e nem sempre o clima ajuda”, diz.A Due Amici também amargou redução de vendas.
Teresinha Matos