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Multinacionais chegam ao Brasil para disputar vendas de genéricos

Os avanços consolidados em dois anos do programa transformaram o setor farmacêutico e começam a atrair empresas multinacionais. Mas também apontam para o início de uma reorganização do setor, segundo a coordenadora de genéricos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Vera Valente.

Para ela, a tendência é que fiquem no mercado as empresas que se modernizaram e apostaram neste nicho. “Outras, que ficaram no meio termo entre genéricos e medicamentos similares, que não precisam de teste de bioequivalência, deverão sair”, diz. Para Vera, as companhias nacionais líderes de mercado estão consolidadas e continuarão crescendo.

As comemorações de hoje celebram os dois anos da chegada do primeiro genérico às farmácias. De lá para cá, a Anvisa já registrou 574 medicamentos, em mais de 1.885 apresentações, produzidos pelas 34 empresas que atuam no mercado. A participação dos genéricos no mercado de medicamentos aumentou de 1,73% em janeiro de 2001 para 5,31% em março deste ano. As vendas acumuladas no mercado total, entre fevereiro de 2001 e março de 2002 foram de 1,2 bilhão de unidades. De genéricos, foram 48 milhões de unidades.

Política de preços baixos

O sucesso de vendas é creditado a dois fatores. Primeiro, ao baixo custo, que acabou reduzindo também o preço dos medicamentos de referência, segundo a Anvisa. “O caso mais emblemático é o do Renitec, que baixou tanto o preço que ficou mais barato que o genérico Maleato de Enalapril”, diz Vera. Em segundo lugar, à legislação, que obriga os médicos a prescreverem o princípio ativo nos receituários da rede pública. “Eles acabam incorporando isso aos consultórios particulares”, diz a gerente de Marketing de Genéricos do laboratório Eurofarma, Maria del Pilar Muñoz.

De acordo com o instituto IMS Health, 13,6% do receituário auditado no Brasil já corresponde à prescrição do genérico. Há dois anos, estas receitas correspondiam a 5,3% – um crescimento de 158%. O mercado promissor – que cresce 9% ao mês – fez com que as dez principais fabricantes investissem no ano passado R$ 396,3 milhões. Pelo menos outros R$ 301,6 milhões estão previstos para os próximos anos. No ranking de vendas, quatro empresas nacionais estão, disparado, no “pelotão de frente”: Medley, EMS, Biosintética e Eurofarma. As quatro são seguidas, bem de perto, pela multinacional Ranbaxy, em uma briga que deve ficar mais acirrada daqui para a frente. Desde o ano passado, começaram a se instalar no Brasil as primeiras companhias internacionais.

A Apotex, maior fabricante de genéricos do Canadá, por exemplo, ergue uma unidade em Itatiba, São Paulo, com investimento de US$ 8 milhões. A alemã Hexal, que ocupa a 10 posição no ranking mundial de genéricos e a 2 na Alemanha, iniciou a construção de uma fábrica em Cambé (PR), com inauguração prevista para meados de 2003. O investimento é de R$ 108 milhões.

Ranbaxy vai abrir fábrica

Já a indiana Ranbaxy, sexta produtora de genéricos do mundo e primeira na Índia, já anunciou a decisão de construir, no Brasil, sua primeira fábrica na América do Sul, a ser inaugurada até 2003. Além destas, outras grandes indústrias estrangeiras se preparam para ingressar no Brasil, como a Cinfa (Espanha), a Ajanta (Índia), a Cipla (Índia) e a Stada (Alemanha). Nenhuma ainda tem registro para vender medicamentos, segundo a Anvisa.

Em janeiro, 15 novas empresas estavam com pedido de autorização para fabricar genéricos no Brasil. Cinco delas já conseguiram: Apotex, Ativus, Biolab Sanus, Luper e Theodoro F. Sobral. A entrada dos concorrentes internacionais não assusta – pelo menos por enquanto – as empresas brasileiras. A gerente de Marketing da Eurofarma destaca que a companhia já tem mais de 30 genéricos no mercado, entre produtos para farmácia e hospitalares, e continua com uma política de lançamento de, em média, dois novos medicamentos por mês. “Vai haver uma redistribuição na fatia das empresas que estão liderando o ranking, mas este nicho continua sendo uma grande oportunidade de negócios para a Eurofarma”, diz Maria del Pilar. Os genéricos já correspondem a 12% de todo o faturamento da empresa ou a 30% das vendas de medicamentos em farmácia.

“Há espaço para todo mundo, porque o potencial brasileiro é enorme”, diz a gerente de Marketing da EMS, Débora Mori. Ela acredita, no entanto, que haverá um distanciamento maior dos líderes em relação aos demais concorrentes. “A entrada de empresas estrangeiras é positiva e mostra que estamos no caminho certo”, diz. Hoje, a EMS possui 70 princípios ativos aprovados, em mais de 130 apresentações. A participação dos genéricos no faturamento global da empresa saltou de 12%, em 2000, para 25% no ano passado. A expectativa da empresa é fechar 2003 em 35%.

De acordo com o IMS Health, o mercado farmacêutico brasileiro é formado por 7.446 produtos, considerando apenas a venda em farmácias. Desse total, 3.387 medicamentos podem ser registrados como genéricos. A inclusão da possibilidade de registro como genérico de hormônios sintéticos também ajuda a ampliar o mercado. Hoje já é permitido o registro como genérico de medicamentos para doenças como osteoporose (Fosamax), câncer de próstata (Androcur) e reposição hormonal (Climene).

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