O grau de inovação no país ainda é considerado baixo ou deixa a desejar para uma boa parcela do empresariado brasileiro.É o que revela uma pesquisa inédita feita pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), em que cerca de 62% dos empresários que comandam empresas inovadoras avaliaram o grau de inovação da indústria brasileira como baixo (54%) ou muito baixo (8%).Outros 35% responderam “nem alto, nem baixo” e apenas 3% classificaram como “alto”.
Para os empresários que não consideram o grau de inovação do país bom, o Brasil ainda está atrasado em relação a outros países.
A defasagem tecnológica é uma das explicações para o baixo grau de inovação, que tem como consequência o aumento das importações ou a reprodução do que feito no exterior.
Os entrevistados apontaram que faltam incentivos à cultura da inovação nas empresas brasileiras. Apontam como obstáculos a dificuldade de interação entre empresas e universidades, além do nível de educação dos profissionais.
“Esta pesquisa comprova a importância do papel da inovação para a sobrevivência das empresas no mercado global e a necessidade de um esforço para criar um ambiente favorável a negócios inovadores no Brasil. Sem dúvida, a inovação é o meio mais estratégico para a indústria crescer e colher resultados mesmo em cenários adversos como o atual”, avalia o superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Paulo Mól.
O estudo foi bem abrangente e consultou líderes de 100 indústrias – 60 delas pequenas e médias, e as outras 40 de grande porte, em setores como bens de consumo e de capital, químico e petroquímico, construção civil, farmacêutico, automotivo, eletroeletrônico, têxtil, digital, energético, siderúrgico e metalúrgico, mineração, celulose e papel, participaram.
Os empresários foram estimulados a avaliar temas com notas de 0 a 10.
A nota mais baixa (4,4) ficou para propriedade intelectual e atração de centros de pesquisas, desenvolvimento e inovação no país. A melhor nota foi para a qualidade dos cursos de engenharia: 6,1, aproximando-se do mínimo considerado aceitável.
Estratégia de negócios – Quase unanimidade entre os participantes: a pesquisa mostrou que 99% do empresariado brasileiro têm a inovação como estratégia de negócio. E, também, que grandes empresas maiores investem mais que as menores.
Até 5% do orçamento das grandes indústrias são destinados à inovação. Já entre as menores, o percentual está entre 1% e 3%.
Entre as motivações para inovar, os empresários apontaram, em primeiro lugar, a vantagem competitiva. Também foi citado o aumento de produtividade, de lucro e de potencial de internacionalização.
Dos entrevistados, 57% revelaram que pretendem aumentar os investimentos em inovação nos próximos cinco anos, e que seria importante estimular a cultura e a capacitação de profissionais inovadores.
A pesquisa também destaca que 77,5% das grandes empresas e 46,7% das pequenas e médias buscam um perfil específico de profissional para fomentar inovação.
Entre as características valorizadas estão pró atividade, criatividade e habilidades de comunicação. Além disso, procuram-se profissionais das áreas de engenharia, com formação técnica, pesquisadores e doutores e programadores.
O estudo mostra ainda quais são as referências mundiais em inovação para os empresários brasileiros: os Estados Unidos aparecem como modelo principal. Depois, foram citados Alemanha, Coreia do Sul, Japão e China.
“Essas são nações que consolidaram um ambiente favorável à inovação e, assim, estimulam os investimentos privados. Elas servem de inspiração. Aqui, os setores privado, público e a academia precisam trabalhar em conjunto para fortalecer a estratégia de inovação do Brasil”, diz Mól.
Modelos de financiamento – Sob outro enfoque, a pesquisa da CNI traz os modelos de financiamento das empresas entrevistadas. Para as grandes, a modalidade de combinação de fontes é a realidade de 67,5% das empresas.
Nessa combinação, de acordo com os empresários, estão recursos próprios, recursos captados de instituições públicas e de privadas, linhas de financiamento e parcerias entre instituições. Já nas pequenas e médias, 46,7% usam recursos próprios e outros 46,7% se valem da combinação de fontes.
“No Brasil, a empresa que quer inovar tem mais oferta de financiamento por linhas de crédito. E ter crédito disponível é essencial. Porém, nesses casos, é preciso devolver esse dinheiro depois. Isso afasta, por exemplo, micros e pequenas empresas, além de novos negócios. Quando falamos em inovação de resultado significativo, falamos de inovação radical e esse é um investimento arriscado. Por isso, defendemos a ampliação de recursos para financiamento na forma de subvenção, recursos não reembolsáveis, para estimular mais projetos de inovação. Isso irá incrementar o sistema de financiamento e estimular mais investimentos privados.”