Ao contrário do que se pode imaginar, estar próximo do concorrente de grande porte pode ser um bom negócio para o pequeno comércio. Por isso, empresas de pequeno porte começam a explorar nichos de mercado deixados de lado pelos grandes. O empresário João Freitas, por exemplo, abriu há uma ano o sebo Red Star, em Pinheiros, após verificar que os clientes da vizinha Livraria Fnac (Féderation Nationale d'Achats des Cadres) tinham dificuldade em encontrar obras antigas e raras a preços acessíveis.
“Vi um grande mercado que se abria para a instalação de um sebo. Hoje estou colhendo frutos da minha decisão”, diz Freitas, que nestes primeiros dias de junho já registrou um crescimento de 20% nas vendas em relação ao mesmo mês do ano passado, quando a loja foi inaugurada, na mesma rua da Fnac.
Apesar de considerada pequena em relação à Fnac, que tem mais de 100 mil títulos cadastrados, o sebo de Freitas tem conquistado os cerca de 1 mil clientes que passam pela loja todo mês, com títulos esgotados, dificilmente encontrados em livrarias. Um exemplo disso é a coleção Monteiro Lobato da editora Brasiliense, que custa R$ 150. A Red Star conta com 30 mil títulos cadastrados de todas as áreas do conhecimento humano.
Para João Paulo Lara Siqueira, coordenador do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Universidade de São Paulo (USP), o pequeno comércio se estabelece perto do concorrente de grande porte quando existe um grande potencial de consumo a ser explorado. “Muitas vezes, os grandes não conseguem suprir as necessidades de cada região. Isso acaba despertando a atenção do pequeno comércio”, diz Siqueira.
Luciano Tadeu Damiani, proprietário da Alex Vídeo, na zona oeste, que está no mercado há 16 anos, viu seu negócio crescer em média 25% ao ano após a chegada de uma unidade da poderosa Blockbuster na mesma rua, há um ano atrás. “A vinda de um grande estabelecimento só fez a locadora melhorar ainda mais seus serviços e atendimento ao consumidor”, diz Damiani. Segundo ele, o diferencial da locadora é possuir um catálogo de mais de 11 mil fitas de vídeo, com diversos tipos de filme, entre eles clássicos como Casablanca e filmes de Charlie Chaplin.
“Geralmente as grandes redes trabalham apenas com os últimos lançamentos”, ressalta o empresário. Trabalhando desta forma, conseguiu um crescimento de 15% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. A Alex Vídeo conta com 8,5 mil clientes ativos no cadastro, que realizam em média, de 4 a 5 mil locações por mês.
O empresário Carlos Alberto Cinquegrana, encontrou no grande varejo uma forma de crescer no mercado. Proprietário da Turn About Tabacaria e Revistaria, rede como três lojas no Hipermercado Extra, o empresário obteve um crescimento médio de 5% nas vendas no primeiro semestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado.
Para ele, a vantagem de estar dentro de um grande varejo, além da segurança e do estacionamento, é contar com o público do hipermercado. “Por isso, conseguimos obter um cadastro com mais de 3 mil clientes em apenas 3 anos, quando a primeira loja foi inaugurada”, diz o empresário, que até o final do ano pretende abrir 5 lojas.
Estar localizado próximo ao grande varejo, também vem garantindo o sucesso da rede de calçados Martinez, que possui pelo menos 9 lojas localizadas próximo a shoppings centers no estado de São Paulo. Uma de suas unidades, que fica na cidade de São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, obteve um crescimento de 20% no primeiro semestre. “Este desempenho se deve ao fato de a loja estar localizada na rua do Shopping São Caetano, onde o comércio de calçados é pouco explorado”, diz o gerente Artur Mendes.
Daniela Nogueira