Os pequenos investidores, fundamentalmente a classe média, são os maiores prejudicados pela crise financeira que afeta o valor dos títulos públicos federais. Somadas as compras diretas dos papéis do governo com os recursos que têm aplicados nos fundos de investimento, formam o segundo maior grupo de investidores nesses títulos, atrás apenas dos bancos.
As LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), os títulos públicos federais de maior participação na dívida interna, não param de perder valor. Consequentemente, muitos fundos de investimento têm apresentado resultados negativos, o que tem motivado resgates por parte dos investidores.
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional Rubens Sardenberg disse ontem à Folha que a evasão de cerca de R$ 50 bilhões dos fundos até julho fará com que eles percam posição como detentores dos títulos públicos. “A mudança na composição da dívida vai ser percebida quando saírem os números de julho e agosto”, afirmou. Segundo ele, será constatada redução proporcional na participação dos fundos de investimento e aumento da participação dos bancos no carregamento da dívida.
Pelos dados de junho, os bancos detêm em carteira própria R$ 227 bilhões em títulos públicos. Os FIFs (Fundos de Investimento Financeiro), quase R$ 204 bilhões. Além disso, as pessoas físicas têm outros R$ 5 bilhões aplicados diretamente em títulos públicos.
A diferença é que os pequenos investidores, pessoas físicas, não têm mecanismos para se defender da depreciação dos títulos. Em maio, o Banco Central obrigou os administradores de recursos de terceiros a registrar os títulos públicos dos fundos de investimento pelo valor de mercado do papel, e não mais pelo valor de aquisição. Ou seja, quedas no valor dos papéis passaram a representar perdas imediatas nos investimentos dos cotistas. O BC mudou essa regra.
Já aos bancos, o BC permitiu a possibilidade de registro dos papéis pelo valor de aquisição, desde que carregados até o vencimento. Isto é, se levassem os títulos até seu prazo final, depreciações dos papéis no mercado não seriam contabilizadas. Além disso, os investidores institucionais, como empresas, fundos de pensão e até mesmo os bancos, podem ter fundos de investimentos exclusivos, os quais também podem ter registrados os papéis pelo valor de aquisição.
As turbulências também provocaram encurtamento dos prazos de vencimento dos títulos. O ideal, em condições normais, é que haja alongamento da dívida, porque, quanto maior o prazo, menor o risco para o Tesouro. Em maio, o prazo médio para pagamentos era de 35,1 meses. Em junho, caiu para 32,9 meses.
Os vencimentos dos papéis num prazo de 12 meses aumentaram para 32,7% do total da dívida em junho, contra 27,8% em maio. Em junho, o Tesouro realizou diversas operações de troca de papéis, mediante a compra de títulos com prazos mais longos (com vencimento de 2004 a 2006) e a venda com prazos mais curtos 2002 e 2003), com o objetivo de reduzir a volatilidade de preços dos títulos.
Segundo Sardenberg, a redução foi grande em cima de um percentual pequeno. O secretário disse que é possível encurtar ainda mais o prazo médio da dívida mobiliária (em títulos). “Estamos observando a indústria de fundos”, disse. Para ele, três fatores levaram os investidores a saírem dos fundos: a crise internacional; o processo eleitoral; e fatores de mercado. O administrador de recursos atualmente dá preferência por papéis de curto prazo, segundo o secretário. “Ele tem de fazer dinheiro para pagar o quotista quando resgata o investimento”.