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Perdas de fundos foram resultado de erro dos administradores

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, atribuiu nesta segunda-feira a erros de avaliação dos administradores de fundos as perdas sofridas pelos investidores com a antecipação da marcação a mercado, no final de maio.

Em entrevista ao programa “Roda Viva', da TV Cultura, que foi ao ar nesta segunda-feira à noite, Armínio disse que desde meados de abril, quando as primeiras pesquisas eleitorais mostravam grande vantagem ao PT na corrida presidencial e os preços das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) passaram a oscilar, o BC percebeu que muitos gestores não estavam ajustando o valores das cotas (mudando a forma de contabilização do valor de face para o valor de mercado dos títulos, a chamada “marcação a mercado') e os alertou. Como percebeu que “as coisas não estavam andando', disse Armínio, decidiu-se pela antecipação do prazo de adaptação dos fundos.

– A regra já dizia que o administrador devia dizer ao cotista onde o dinheiro está investido, as características dos títulos, etc. O que aconteceu foi a avaliação equivocada (dos administradores) de pensar: olha, esses papéis não têm risco, porque nunca tiveram oscilações.

Classificando a decisão de antecipar a marcação como “antipática, mas necessária', Armínio admitiu que as fortes oscilações nos preços das LFTs, principal razão da depreciação das cotas, assustaram os aplicadores.

O dado positivo desse episódio, observou, são as mudanças no perfil da indústria de fundos, que deve passar a compor carteiras com remuneração diferenciada em função dos prazos das aplicações. Armínio evitou afirmar, contudo, que os fundos estão livres de novos baques.

– O aplicador que tem um horizonte longo, pode ficar tranqüilo, não faz o menor sentido mexer nisso agora. Mas se o cidadão quer ter retorno diário garantido, tem de se informar. Aplicações mais curtas terão retornos mais baixinhos, enquanto as aplicações mais longas, de seis meses, um ano, vão render mais – disse.

Remuneração diferenciada – Falando ainda do prejuízo dos fundos, Armínio atacou as especulações sobre o grau de solvência do governo. Em sua avaliação, as LFTs se desvalorizaram além da conta também porque, depois das primeiras oscilações, analistas passaram a falar da possibilidade do governo se ver obrigado a renegociar a dívida.

– Isso é desnecessário e gera esse tipo de resposta, ou seja, os títulos caíram além da conta porque surgiu o medo. Isso deixou claro também, para quem quer que venha pela frente (o novo presidente), que mexer nos títulos da dívida é suicídio – disse.

Armínio rebateu com veemência uma avaliação recente do banco de investimentos Lehman Brothers de que o Brasil precisará realizar uma reestruturação de sua dívida até o final do próximo ano.

– Essa é uma visão terrorista, equivocada e desnecessária – criticou.

Ronaldo D'Ercole

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