Piratas do Caribe – A maldição do Pérola Negra
Piratas do Caribe. Só de ler esse nome te dá arrepios? Pois se tratando de uma produção Disney não tem com o que se preocupar. Apesar de fazer a linha “café com leite”, o filme surpreende em muitos aspectos: conquistou a platéia teen americana (batendo filmes como O Exterminador do Futuro 3), mesmo abordando um assunto tão batido como a pirataria, e dá a Johnny Depp a chance de ter uma das melhores atuações de sua carreira.
A história se passa no Caribe, no final da década de 1720, quando o mar ainda era dominado pelos piratas. Depp vive o malandro e charmoso capitão Jack Sparrow, um sujeito que vê sua liberdade e a vida boa de pirata de pernas para o ar quando o ardiloso capitão Barbossa (Geoffrey Rush) rouba seu navio, o Pérola Negra e, em seguida, ataca a pacata e aristocrata cidade de Port Royal, seqüestrando a filha do governador, a bela e espevitada Elizabeth Swann (Keira Knightley).
Depp, aliás, merece um capítulo à parte nessa produção. O ator, que elaborou o personagem enquanto lia o roteiro em sua sauna, teve toda a liberdade dos estúdios e do diretor Jerry Bruckheimer para definir a atitude e a aparência de Jack. O ator afirma ter criado o personagem inspirado no lendário guitarrista do Rolling Stones, Keith Richards, com um pouco do personagem dos desenhos animados, Pepe Legal, e um toque de um rastafari dos dias atuais. Todo o filme tem seu charme, seu toque. Jack é um canastrão, mas não deixa de ser boa praça. Por onde passa e em cada cena, transforma o personagem, tornando-o mais humano e mais leve.
Elizabeth, a mocinha da história, está prometida para o ambicioso comodoro Norrington (Jack Danvenport), mas é apaixonada por Will Turner (Orlando Bloom), o amigo de infância que conheceu e salvou de um naufrágio depois que o barco do garoto foi atacado por piratas no Caribe. Will é ferreiro na ilha, mas guarda uma paixão secreta pela garota, já que não se imagina um dia a seu lado. Sua chance de conquistar a bela é aliar-se a Jack e partir em busca do Pérola Negra, onde está o seu amor. Atrás dos rapazes, vem a comitiva de Norrington. Pena que o veterano e excelente Jonathan Pryce, que vive o governador Weatherby Swann, tenha um papel tão pequeno e sem importância na trama.
A jovem nutre uma curiosidade mórbida acerca dos piratas, lê livros demais e vive em um mundo de fantasias. Apesar de estar no século XVIII, a jovem parece ser do século XXI. Briga com seu pai por não querer se casar com o Comodoro e, ao longo de todo o filme, descobre que o mundo é muito mais cruel do que ela imagina. A jovem perde as roupas apertadas e os frufrus para ganhar um visual mais arrojado e decidido. Na única cena constrangedora – em que a aristocrata corre o risco de ser violentada -, os estúdios mantêm sua tradição politicamente correta e impedem a violência. A atriz inglesa de apenas 17 anos dá conta do recado e consegue conquistar a empatia do público e dos bonitões que a disputam no filme.
Will não sabia que seu falecido pai também havia sido um pirata, que amaldiçoou um tesouro e condenou Barbossa e a tripulação a viverem para sempre como zumbis, sendo transformados sob a incidência da luz do luar em esqueletos. A dupla Ted Elliot e Terry Rossio, do premiado Shrek, aliás, encontrou um jeito muito interessante de narrar uma história tão batida. Os piratas precisam da última peça do tesouro e do sangue de um parente de quem lançou a maldição para que possam sentir de novo os prazeres do mundo de carne e osso. A maldição permite que o grupo fique com as riquezas e continue com seus atos criminosos, mas não pode desfrutar de nada. E para piorar a situação, os piratas pensam que Elizabeth é quem eles estão procurando, já que quando é capturada dá como sobrenome o de Will Turner. Apesar das 2h20, que poderiam ser diminuídas em alguns bons minutos, o filme tem tudo para cair no gosto do público adolescente brasileiro e também ser um sucesso de bilheteria por aqui. Pena mesmo que não foi lançado durante as férias brasileiras.
Silvia Marconato