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Piratas do Caribe – A maldição do Pérola Negra

Guarulhos, 29 de agosto de 2003

ArtePiratas do Caribe. Só de ler esse nome te dá arrepios? Pois se tratando de uma produção Disney não tem com o que se preocupar. Apesar de fazer a linha “café com leite”, o filme surpreende em muitos aspectos: conquistou a platéia teen americana (batendo filmes como O Exterminador do Futuro 3), mesmo abordando um assunto tão batido como a pirataria, e dá a Johnny Depp a chance de ter uma das melhores atuações de sua carreira.

A história se passa no Caribe, no final da década de 1720, quando o mar ainda era dominado pelos piratas. Depp vive o malandro e charmoso capitão Jack Sparrow, um sujeito que vê sua liberdade e a vida boa de pirata de pernas para o ar quando o ardiloso capitão Barbossa (Geoffrey Rush) rouba seu navio, o Pérola Negra e, em seguida, ataca a pacata e aristocrata cidade de Port Royal, seqüestrando a filha do governador, a bela e espevitada Elizabeth Swann (Keira Knightley).

Depp, aliás, merece um capítulo à parte nessa produção. O ator, que elaborou o personagem enquanto lia o roteiro em sua sauna, teve toda a liberdade dos estúdios e do diretor Jerry Bruckheimer para definir a atitude e a aparência de Jack. O ator afirma ter criado o personagem inspirado no lendário guitarrista do Rolling Stones, Keith Richards, com um pouco do personagem dos desenhos animados, Pepe Legal, e um toque de um rastafari dos dias atuais. Todo o filme tem seu charme, seu toque. Jack é um canastrão, mas não deixa de ser boa praça. Por onde passa e em cada cena, transforma o personagem, tornando-o mais humano e mais leve.

Elizabeth, a mocinha da história, está prometida para o ambicioso comodoro Norrington (Jack Danvenport), mas é apaixonada por Will Turner (Orlando Bloom), o amigo de infância que conheceu e salvou de um naufrágio depois que o barco do garoto foi atacado por piratas no Caribe. Will é ferreiro na ilha, mas guarda uma paixão secreta pela garota, já que não se imagina um dia a seu lado. Sua chance de conquistar a bela é aliar-se a Jack e partir em busca do Pérola Negra, onde está o seu amor. Atrás dos rapazes, vem a comitiva de Norrington. Pena que o veterano e excelente Jonathan Pryce, que vive o governador Weatherby Swann, tenha um papel tão pequeno e sem importância na trama.

A jovem nutre uma curiosidade mórbida acerca dos piratas, lê livros demais e vive em um mundo de fantasias. Apesar de estar no século XVIII, a jovem parece ser do século XXI. Briga com seu pai por não querer se casar com o Comodoro e, ao longo de todo o filme, descobre que o mundo é muito mais cruel do que ela imagina. A jovem perde as roupas apertadas e os frufrus para ganhar um visual mais arrojado e decidido. Na única cena constrangedora – em que a aristocrata corre o risco de ser violentada -, os estúdios mantêm sua tradição politicamente correta e impedem a violência. A atriz inglesa de apenas 17 anos dá conta do recado e consegue conquistar a empatia do público e dos bonitões que a disputam no filme.

Will não sabia que seu falecido pai também havia sido um pirata, que amaldiçoou um tesouro e condenou Barbossa e a tripulação a viverem para sempre como zumbis, sendo transformados sob a incidência da luz do luar em esqueletos. A dupla Ted Elliot e Terry Rossio, do premiado Shrek, aliás, encontrou um jeito muito interessante de narrar uma história tão batida. Os piratas precisam da última peça do tesouro e do sangue de um parente de quem lançou a maldição para que possam sentir de novo os prazeres do mundo de carne e osso. A maldição permite que o grupo fique com as riquezas e continue com seus atos criminosos, mas não pode desfrutar de nada. E para piorar a situação, os piratas pensam que Elizabeth é quem eles estão procurando, já que quando é capturada dá como sobrenome o de Will Turner. Apesar das 2h20, que poderiam ser diminuídas em alguns bons minutos, o filme tem tudo para cair no gosto do público adolescente brasileiro e também ser um sucesso de bilheteria por aqui. Pena mesmo que não foi lançado durante as férias brasileiras.

Silvia Marconato