Em junho, quando começou a valer a marcação a mercado das cotas dos fundos de renda fixa e DI, alguns clientes amargaram perdas, e existe a possibilidade de que isso volte a acontecer. Com isso, muitos sacaram seus recursos e preferiram aplicar na velha caderneta de poupança, que garante remuneração de 6% ao ano mais a variação da TR. Ou seja, trocaram segurança por uma remuneração mais baixa. Para muitos investidores, pode não ter valido a pena.
Segundo a superintendente nacional de Serviços e Captação da Caixa Econômica Federal (CEF), Celina Lopes, a poupança é o investimento mais tradicional do Brasil, quase não tendo sofrido alterações desde a sua criação, há cerca de 30 anos. Para ela, os prêmios oferecidos pela Caixa e a facilidade de transação são pontos muito atrativos, especialmente para quem não vive nos grandes centros, pois pode ser movimentada em cerca de 9 mil lotéricas. Com o cartão eletrônico, que também funciona como cartão de débito, a conta pode ser movimentada em banco 24 horas. A CEF controla 31,3% dos depósitos em poupança no País.
A segurança e a simplicidade, no entanto, pagam pouco, apesar da isenção da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que quase todos os bancos oferecem para os depósitos que ficam mais de 90 dias na conta. Mesmo assim, Celina Lopes afirma que quem saca o dinheiro exatamente depois de trinta (no aniversário da conta) ou noventa dias (quando recebe isenção da CPMF) consegue um rendimento competitivo com os fundos.
Para a diretora técnica do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF), Márcia Dessen, esse rendimento pontual não vale a pena. “A rigidez da remuneração dos recursos somente a cada trinta dias teria de vir acompanhada de uma rentabilidade melhor”. “Além disso”, diz ela, “quando o banco oferece isenção da CPMF também para os fundos, a poupança perde feio.” Ela vê vantagens na aplicação na poupança somente para pessoas de renda baixíssima e nenhum interesse em informar-se sobre opções de investimento.
Quanto ao risco dos fundos, ela acredita que a oscilação não muda o fato de que a rentabilidade dos fundos sempre será superior no longo prazo, além de que a maioria das instituições financeiras já oferece fundos de curto prazo, com risco muito pequeno. Para Márcia Dessen, o investidor deve ser tão exigente quanto quando compra um produto em uma loja, e só aplicar em uma instituição financeira de confiança, observando custos (taxas de administração), política da carteira e acompanhar de vez em quando a composição do fundo. “Quem aplica deve comparar condições e a remuneração, e sempre barganhar, por exemplo, a devolução da CPMF”.
A diretora do IBCPF ainda questiona a segurança da poupança. “Muitos dos fundos que apresentaram rentabilidade negativa em junho apresentaram problemas de risco de crédito, ou seja, papéis de empresas em dificuldades”. Ela lembra que a garantia para depósitos de até R$ 20 mil por CPF oferecida pelo Fundo Garantidor de Crédito (entidade de caráter privado) vale para a poupança, mas também para a conta corrente, CDB, letra de câmbio e letra hipotecária. Mas o investidor empresta dinheiro ao banco, ficando sujeito à sua saúde financeira e tem uma garantia limitada. No caso de um fundo de renda fixa ou DI composto de títulos públicos, por exemplo, o dinheiro é emprestado ao governo. Ou seja, o investidor só não o recebe se o governo decretar um calote da dívida.
Ricardo Gualda