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Quanto mais prazo para os pré-datados, maior é o risco

Guarulhos, 18 de fevereiro de 2002

A inadimplência do cheque aumentou em janeiro. Segundo dados da Associação Comercial de São Paulo, ACSP, e do Banco Central, BC, o número de cheques sem fundos reapresentados pela segunda vez em janeiro no País ficou em 3.485.547, ou seja, um aumento de 25,5% em relação aos números de igual mês do ano passado. Mas em janeiro de 2001, em relação ao mesmo mês de 2000, esse avanço foi maior ainda, de 34,7%. Dois são os motivos para esse aumento: primeiro está ocorrendo uma maior utilização do cheque como instrumento de crédito, com o crescimento acentuado do uso do pré-datado nas compras parceladas. Também o forte alongamento dos prazos nessa modalidade de pagamento, que evoluiu de três para seis meses, contribuiu para aumentar a inadimplência.

Há dois anos apenas 50% dos cheques eram pré-datados. Hoje 70% dos cheques emitidos no mercado brasileiro são pré-datados. Crédito – A análise foi feita pelo economista da Associação Comercial, Emílio Alfieri. Segundo ele, o cheque praticamente deixou de ser uma ordem de pagamento à vista – em que o risco de inadimplência em geral é baixo, já que ele funciona como uma compra em dinheiro – para se transformar em um forte instrumento de crédito.

Para se ter uma idéia, a inadimplência do cheque à vista é mínima. A cada mil documentos emitidos apenas dois voltam sem fundos, o que representa uma inadimplência de 0,2%. Mas à medida que os prazos vão se alongando o risco também cresce. Quando o prazo concedido ao cliente sobe para 30 dias, a inadimplência salta para 2%. Se o parcelamento no pré-datado é de 90 dias a inadimplência fica em 3%, significando que em mil cheques 30 voltam sem fundos. Nos prazos de 180 dias, a inadimplência triplica, chegando a 10%. O que torna a operação bastante arriscada. É por isso que o lojista precisa tomar cuidado de não alongar muito o prazo na hora de conceder o crédito, se utilizando do cheque.

“Nos parcelamentos até 90 dias a inadimplência é de 3%, ainda assim inferior a do crediário, que em janeiro estava em 5,4%”, diz o economista. Alternativa – Só que, em tempos de vacas magras, o lojista, especialmente o pequeno, não tem muitas alternativas para aumentar suas vendas. Resultado: mesmo sabendo dos riscos, os comerciantes concedem crédito lançando mão do pré-datado. É comum encontrar pequenas lojas de calçados, de confecções, de brinquedos e de outros ramos parcelando em até quatro vezes, quando não em até seis meses com cheques pré-datados. A clientela da Couros Line, loja de calçados instalada no Shopping Mizumoto, na Liberdade, pode parcelar suas compras em até três vezes. E, dependendo do valor da compra, o pagamento é estendido para quatro vezes no cheque. “A nossa clientela é formada por pessoas da terceira idade e pela colônia japonesa, o que minimiza o risco”, comenta a proprietária Marta Ogawa. Marta Ogawa, porém, toma alguns cuidados na hora de receber o cheque, solicitando a apresentação de documentos, RG e endereço. “Só consulto o serviço de proteção ao crédito quando desconfio do cliente.”

A lojista, que tem entre 20% e 30% de seu faturamento proveniente dos negócios com cheque pré-datado, raramente recebe cheques sem fundos. “As vezes acontece com algum cliente em dificuldades. Mas na reapresentação do documento conseguimos recuperar o prejuízo. Alguma coisa perdemos, mas isso é natural no negócio”, diz. Mudanças – O vice-presidente do Sindicato dos Lojistas de São Paulo, Murad Salomão Saad, também ressalta que apesar dos riscos o pré-datado é uma das principais alternativas de crédito para o pequeno comércio. “Há alguns meses atrás praticamente todo o comércio estava vendendo em até seis vezes pelo cheque, agora parece que o prazo já caiu para no máximo quatro vezes”, diz. Murad também recomenda cuidado ao lojista que lança mão desse tipo de instrumento. “É preferível consultar o cheque e, se houver problemas com o consumidor, lamentar e não concluir o negócio”, afirma.

(Teresinha Matos)