Queda de renda trava produção
A atividade industrial brasileira interrompeu a lenta recuperação que vinha ocorrendo nos últimos quatros meses e voltou a cair em março. Na comparação com fevereiro, a produção foi 0,8% menor. Em relação a março do ano passado, a queda chegou a 3,8%, o pior resultado deste ano, revelam números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nem mesmo o fim do racionamento, em março, foi capaz de acelerar o ritmo das fábricas: a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) foi 3,9% menor do que em fevereiro, a dos bens semi-duráveis e não duráveis (alimentos e roupas) encolheu 1,9%. A exceção foram os duráveis (automóveis e eletrodomésticos), com alta de 1%.
Renda corroída – “Esse resultado reflete o quadro que estamos vivendo. Com desemprego alto e a renda corroída pela inflação, a população não tem como consumir e a produção cai”, explica Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi).
Na avaliação do analista, o quadro ainda é agravado por outros fatores.”Não há nenhum sinal de reativação econÔmica. Os investimentos estão parados, o que é comum em ano eleitoral, e as exportações patinam por causa da crise Argentina e da retração da economia mundial”.
Mesmo sendo mais alta, a perda de produção em relação a março do ano passado é a que menos preocupa os analistas. Isso porque, a base de comparação é alta, ou seja, o número contrapõe o resultado deste ano com uma fase de otimismo em 2001. Não havia racionamento de energia, a crise argentina não tinha se intensificado e atentados terroristas aos Estados Unidos eram cenas de ficção.
“Mais importante foi a queda em relação a fevereiro, que interrompeu a recuperação”, avalia Mariana Rebouças, economista do IBGE. O diretor do Iedi concorda e afirma que o único caminho para mudar o cenário é redução nos juros.”Ou você reaquece a economia com crescimento e renda ou através do crédito. Para isso, o Banco Central teria que reduzir os juros em 0,5 ou 1 ponto percentual. Mas parece que eles têm medo de baixar as taxas “, afirma Gomes de Almeida.
Exatamente por isso, ele prevê que o cenário de estagnação se mantenha. A partir do segundo semestre, acredita, os números podem melhorar em relação ao ano anterior. A razão, entretanto, será mais a metodologia da pesquisa do que reaquecimento econÔmico.
É que, assim como no primeiro semestre a base de comparação com igual período do ano passado era alta, no segundo, essa base estará baixa, porque nos últimos meses do ano a indústria já estava sob os efeitos das crises. Comparados com aquele período, os resultados deste ano tendem a ser maiores. “No segundo semestre, teremos uma ilusão de crescimento causada pela estatística”.
NICE DE PAULA