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Rebaixamento do Brasil dispara dólar e risco

Guarulhos, 21 de junho de 2002

O mercado financeiro brasileiro teve ontem o seu dia de maior pânico no ano. Ao furacão das últimas semanas se somaram os terremotos provocados por duas agências internacionais de classificação de riscos. A sucessão de más notícias deixou os investidores ainda mais nervosos, levando o dólar e o risco Brasil a dispararem e a Bolsa de Valores de São Paulo a afundar em meio ao pessimismo geral.

Para os operadores, já decepcionados com a manutenção pelo Banco Central da taxa básica de juros em 18,5% anuais na véspera, o dia começou mal com a divulgação da última pesquisa eleitoral do Ibope indicando a estagnação da candidatura de José Serra. Logo em seguida, no início da tarde, somou-se o rebaixamento, pela agência de classificação de riscos americana Moody's, da perspectiva para a nota de crédito soberano do Brasil, hoje em B1. Ela foi de estável para negativa, indicando uma queda a qualquer momento. À noite, foi a vez da britânica Fitch rebaixar a nota brasileira, que foi de BB- para B+.

Assim, o dólar comercial, que abriu os negócios em leve baixa, mudou de trajetória e fechou em alta de 2,32%, cotado a R$ 2,770. A reversão da tendência também foi observada na Bovespa, que abriu em leve alta para terminar o dia desabando 5,08%.

A ação da Moody's também afetou fortemente os preços dos títulos da dívida externa brasileira. O C-Bond, papel de referência do Brasil no exterior, caiu 5,97% e fechou sendo negociado a apenas 61,1% de seu valor de face, menor preço desde 2 de setembro de 1999. A queda do C-Bond ajudou a puxar para cima o risco Brasil calculado pelo banco americano JP Morgan.

O índice disparou 15,27%, ou 211 pontos, para ficar em 1.593 pontos. A subida do risco brasileiro, associada à queda de 1,31% do risco da Nigéria, fez o Brasil ultrapassar a nação africana no ranking dos países teoricamente mais perigosos para os investidores. Agora, o risco Brasil é menor apenas do que o risco da Argentina, líder inconteste com 6.062 pontos.

Em meio à turbulência, novos números preocupantes sobre a confiança do investidor brasileiro: os fundos de renda fixa e DI já tiveram, este mês, perdas superiores a R$ 11 bilhões, segundo dados da Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid). A maior parte do dinheiro migrou para o dólar, a poupança e os CDBs, mas houve pesadas remessas ao exterior.

Os mercados americanos também tiveram um mau dia ontem. A preocupação com o aumento da violência no Oriente Médio, com a confiabilidade da contabilidade das grandes corporações e a perspectiva de uma retomada mais lenda do crescimento econômico derrubou as bolsas. A Bolsa de Nova York terminou o pregão em queda de 1,38% enquanto a Nasdaq recuou 2,19%.